"O diletante, com efeito, corre entre as ideias e os factos como as borboletas (a quem é desde séculos comparado) correm entre as flores, para pousar, retomar logo o voo estouvado, encontrando nessa fugidia mutabilidade o deleite supremo." Eça de Queirós, A Correspondência de Fradique Mendes (Memórias e Notas)
30 de junho de 2022
Uma descamisada
29 de junho de 2022
Scouts em Oxford e bedders em Cambridge
É verdade que na descrição de funções estavam implícitos outros pressupostos. Os estudantes de Oxbridge, julgava-se, eram incapazes de desempenhar estas tarefas subalternas: porque nunca as tinham feito mas também porque as suas aspirações e interesses os punham acima de tais preocupações. Além disso, e talvez acima de tudo, o bedder era responsável por manter debaixo de olho a condição moral de quem tinha a seu cargo (em Oxford, os scouts por vezes eram homens, embora isso fosse raro na década de 60; na minha experiência, os bedders eram quase sempre mulheres).
Richard Harraden
28 de junho de 2022
Putedo
“Nos últimos anos, as minhas várias moradas eram «bases» gratuitas, em pessoas amigas. Vantagens e desvantagens, como tudo na vida. Andava metido em sarilhadas, nunca estava à minha vontade, um turbilhão, por vezes. Neste buraco actual, onde já fiam, fecho a porta e haja o que houver, menos fogo, não me ralo até de manhã. A pensão, ainda em obras, vizinha do Bairro Alto, tem a clientela que se calcula: putedo e respectivos chulos, amantes, engates de ocasião. Isto dá cenas de pancadaria, correrias escadas abaixo. Se estou a ler, interrompo. É mais interessante ouvir. E já me habituei ao ritmo da casa, toda a noite entradas e saídas. Não é comigo, não vejo as caras. A noite passada, a ler, para talvez fazer um breve comentário no Popular, o livro da Isabel do Carmo e da Fernanda Fráguas, Puta de Prisão, com 50 casos de prostitutas narrados da Cadeia de Custóias, eu tinha, no quarto ao lado do meu, uma garota a ser esmifrada por um chuleco, com berraria das 4 às 8 da matina (ele fechou a porta à chave e sacou-lhe a mala), a realidade dos factos tão perto excedia a realidade dos factos do livro.”
Pacheco, Luiz, O Grilo na Varanda – Luiz Pacheco para Laureano Barros (Correspondência, 1966-2001), transcrição, introdução e notas de João Pedro George, Lisboa, Tinta-da-China, 2017, pp. 213-214.
27 de junho de 2022
Ilusões
Judt, Tony, O Chalet da Memória, Lisboa, Edições 70, 2011, p. 102.
26 de junho de 2022
Crianças selvagens
Pacheco, Luiz, O Grilo na Varanda – Luiz Pacheco para Laureano Barros (Correspondência, 1966-2001), transcrição, introdução e notas de João Pedro George, Lisboa, Tinta-da-China, 2017, p. 167.
25 de junho de 2022
Kibbutz e árabes
24 de junho de 2022
Revolução nenhuma
23 de junho de 2022
Kibbutz
Judt, Tony, O Chalet da Memória, Lisboa, Edições 70, 2011, pp. 98-99.
22 de junho de 2022
Manuscritos
21 de junho de 2022
Comboios
20 de junho de 2022
À portuguesa
Carta das Caldas da Rainha de Luiz Pacheco para Laureano Barros, 28/10/66
“Como solução desesperada, mas pensada, de emergência, tentando evitar o pior, fui à Sertã dar-me à prisão. Ingenuidade minha e portuguesa: ali deparei com uma barafunda incalculável, o edifício do tribunal em obras, ninguém para me atender (prender). À portuguesa, século XX e daqui para trás. Fugi a rir muito, e com mais medo logo que soube que a cadeia, que supunha ao alto da vila, um autêntico sanatório, era num vale, cheia de água e musgo nas celas. Agora aguardo. De dia, a rir. Às noites, que não durmo, a ter pesadelos.”
Pacheco, Luiz, O Grilo na Varanda – Luiz Pacheco para Laureano Barros (Correspondência, 1966-2001), transcrição, introdução e notas de João Pedro George, Lisboa, Tinta-da-China, 2017, p. 72.
19 de junho de 2022
Carros
18 de junho de 2022
Papéis
17 de junho de 2022
Comer no Reino Unido
Foi assim que passei a associar a comida inglesa não tanto à ausência de subtileza, mas à ausência de qualquer possível sabor. Comíamos pão escuro Hovis, que, no seu estilo digno, sempre me pareceu ainda mais chato do que as torradas aborrachadas em pão branco que me serviam ao chá em casa dos meus amigos. Comíamos carne cozida, legumes cozidos e, muito esporadicamente, versões fritas do mesmo (para ser justo, a minha mãe até conseguia fritar o peixe com algum estilo ─ nunca consegui perceber se era um atributo inglês ou judaico). O queijo, quando havia, era geralmente holandês ─ por razões que nunca percebi. O chá estava omnipresente. Os meus pais não aprovavam bebidas com gás ─ outro legado infeliz dos seus devaneios políticos ─ e por isso bebíamos sumos de fruta sem gás, ou, em anos posteriores, nescafé. Graças ao meu pai, por vezes aparecia camembert, salada, café a sério e outros mimos. Mas a minha mãe via tudo isto com a mesma desconfiança que tinha relativamente a outras importações do continente, gastronómicas e humanas.”
Judt, Tony, O Chalet da Memória, Lisboa, Edições 70, 2011, pp. 40-41.
16 de junho de 2022
As bibliotecas
15 de junho de 2022
Açúcar e margarina no Reino Unido
Judt, Tony, O Chalet da Memória, Lisboa, Edições 70, 2011, p. 31.
14 de junho de 2022
Ser coleccionador de livros
13 de junho de 2022
Esclerose lateral amiotrópica
Com efeito, a ELA constitui uma prisão progressiva sem fala. Primeiro, perde-se o uso de um ou dois dedos; depois, um membro; depois, e quase inevitavelmente, os quatro. Os músculos do tronco definham quase ao ponto do torpor, um problema concreto do ponto de vista digestivo mas que também põe a vida em risco, pois respirar torna-se a princípio difícil e, com o tempo, impossível sem ajuda externa, na forma de um aparelho com bomba de ar e tubo. Nas variantes mais extremas da doença, a par da disfunção dos neurónios motores superiores (o resto do corpo é conduzido pelos chamados neurónios motores inferiores), torna-se impossível engolir, falar e até controlar o maxilar e a cabeça. Não sofro (ainda) deste aspeto da doença, caso contrário não conseguiria ditar este texto.”
Judt, Tony, O Chalet da Memória, Lisboa, Edições 70, 2011, pp. 23-24.