“Por
isso, cresci com a comida inglesa. Mas não com peixe e batatas
fritas, pudim de frutos secos, carne com massa, pudim de yorkshire ou
outros acepipes da cozinha caseira britânica. Estes pratos eram
desdenhados pela minha mãe por serem pouco saudáveis; ela pode ter
crescido rodeada por não-judeus, mas, precisamente por isso, ela e a
família não se metiam com ninguém e pouco conheciam do mundo
doméstico dos seus vizinhos, a quem viam com medo e desconfiança.
De qualquer forma, ela não fazia a menor ideia de como preparar
«acepipes ingleses». Os seus encontros ocasionais, através dos
amigos do meu pai do Partido Socialista da Grã-Bretanha, com
vegetarianos e com vegans
tinham-lhe
ensinado as virtudes do pão escuro, arroz integral, feijão verde e
outros ingredientes «saudáveis» da dieta de um eduardiano de
esquerda. Mas ela sabia lá cozinhar arroz integral… Por isso,
fazia o mesmo que todos os outros cozinheiros em Inglaterra na
altura: cozia tudo até mais não.
Foi assim que passei a associar a comida inglesa não tanto à ausência de subtileza, mas à ausência de qualquer possível sabor. Comíamos pão escuro Hovis, que, no seu estilo digno, sempre me pareceu ainda mais chato do que as torradas aborrachadas em pão branco que me serviam ao chá em casa dos meus amigos. Comíamos carne cozida, legumes cozidos e, muito esporadicamente, versões fritas do mesmo (para ser justo, a minha mãe até conseguia fritar o peixe com algum estilo ─ nunca consegui perceber se era um atributo inglês ou judaico). O queijo, quando havia, era geralmente holandês ─ por razões que nunca percebi. O chá estava omnipresente. Os meus pais não aprovavam bebidas com gás ─ outro legado infeliz dos seus devaneios políticos ─ e por isso bebíamos sumos de fruta sem gás, ou, em anos posteriores, nescafé. Graças ao meu pai, por vezes aparecia camembert, salada, café a sério e outros mimos. Mas a minha mãe via tudo isto com a mesma desconfiança que tinha relativamente a outras importações do continente, gastronómicas e humanas.”
Foi assim que passei a associar a comida inglesa não tanto à ausência de subtileza, mas à ausência de qualquer possível sabor. Comíamos pão escuro Hovis, que, no seu estilo digno, sempre me pareceu ainda mais chato do que as torradas aborrachadas em pão branco que me serviam ao chá em casa dos meus amigos. Comíamos carne cozida, legumes cozidos e, muito esporadicamente, versões fritas do mesmo (para ser justo, a minha mãe até conseguia fritar o peixe com algum estilo ─ nunca consegui perceber se era um atributo inglês ou judaico). O queijo, quando havia, era geralmente holandês ─ por razões que nunca percebi. O chá estava omnipresente. Os meus pais não aprovavam bebidas com gás ─ outro legado infeliz dos seus devaneios políticos ─ e por isso bebíamos sumos de fruta sem gás, ou, em anos posteriores, nescafé. Graças ao meu pai, por vezes aparecia camembert, salada, café a sério e outros mimos. Mas a minha mãe via tudo isto com a mesma desconfiança que tinha relativamente a outras importações do continente, gastronómicas e humanas.”
Judt, Tony, O Chalet da Memória, Lisboa, Edições 70, 2011, pp. 40-41.
"British Food, published by Agnes B./Gallery du Jour, 1995. This is an appetising catalogue published by Agnes B's Galerie du Jour in conjunction with a 1995 exhibition of Martin Parr's flash-saturated images of British cuisine. Close-up, ring flashed images of everyday food from all parts of Britain invites the public to take a look at what they eat. This project kick started Parr’s fascination with food as a way to explore social issues and identity. First Published by Agnes B./Gallery du Jour, 1995. Printed by Les Presses Artistiques, Paris. Softback. w 250 x h 181 mm. Second Edition published in 1998." daqui
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