26 de junho de 2022

Crianças selvagens

     Em Coimbra, comecei uma espécie de reportagem romanceada sobre uma rapariguita aqui do Algarve, internada, muda, com um diagnóstico incerto: autista (ou altista?) e sem cura; ou assim porque metida, desde os quatro aos 14, pela própria mãe, num quarto escuro, com uma clarabóia, nua, com um colchão de arame sem nada em cima do arame, nem ao menos uns jornais. Ali, fechada, tratada por mãe neurótica, que lhe dava o comer como a um cão. Isto não se passou aqui em Lagos, mas perto de Albufeira, na Guia. É o caso do filme do Truffaut e do Kaspar Hauser. Os médicos, esses peritos da doença, interessavam-se e muito mais se o pai (que morreu num acidente precisamente quando começam as desventuras da Isilda) fosse algum latifundiário. E deixasse a viúva com fartos bens. Para azar (de todos: da viúva, da Isilda, dos peritos) a mãe vive a expensas de um filho pedreiro – são quatro irmãos: o primeiro morreu, há dois rapazes normais e a Isilda – e com um pequeno subsídio.”

Pacheco, Luiz, O Grilo na Varanda – Luiz Pacheco para Laureano Barros (Correspondência, 1966-2001), transcrição, introdução e notas de João Pedro George, Lisboa, Tinta-da-China, 2017, p. 167.


Savage of Aveyron
1807

"A feral child who spent most of his childhood in the wild in the Aveyron before being captured in 1800 and taken to Paris where he was studied by Roch-Ambroise Cucurron Sicard. His education was taken up by Jean Marc Gaspard Itard in 1801, but he never learned how to talk." daqui

Sem comentários:

Enviar um comentário