25 de junho de 2022

Kibbutz e árabes

   “Adorei. Oito horas de trabalho árduo, que não obrigava a pensar, numa plantação abafada de bananeiras na costa do mar da Galileia, intervalado com canções, caminhadas, longas discussões doutrinais (cuidadosamente encenadas por forma a reduzir o risco de os adolescentes as rejeitarem, ao mesmo tempo que maximizavam a atração dos objetivos partilhados), e a insinuação constante de sexo sem culpa: naquela altura, o kibbutz e a penumbra ideológica que lhe estava associada ainda retinham laivos do ethos inocente de «amor livre» dos cultos radicais de princípios do século XX.
    Na verdade, é claro que eram comunidades provincianas e muito conservadoras, e a sua regidez ideológica camuflava o horizonte limitado de muitos dos seus membros. Mesmo em meados dos anos 60 era já evidente que a economia de Israel não se baseava na pequena agricultura doméstica; e os cuidados que os movimentos kibbutzim de esquerda tinham para não empregar mão-de-obra árabe, mais do que macular as suas credenciais igualitárias isolava-os dos factos inconvenientes da vida no Médio Oriente. Tenho a certeza de que não percebi tudo isto na altura – embora me lembre de me questionar por que razão nunca conheci um único árabe durante as minhas longas estadas no kibbutz, mesmo apesar de viver perto das comunidades árabes mais densamente povoadas do país.”

Judt, Tony, O Chalet da Memória, Lisboa, Edições 70, 2011, pp. 99-100.


Kibbutz Kfar Giladi, Israel
ca. 1979 

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