“Adorei. Oito horas de trabalho árduo, que não obrigava a pensar, numa
plantação abafada de bananeiras na costa do mar da Galileia,
intervalado com canções, caminhadas, longas discussões doutrinais
(cuidadosamente encenadas por forma a reduzir o risco de os
adolescentes as rejeitarem, ao mesmo tempo que maximizavam a atração
dos objetivos partilhados), e a insinuação constante de sexo sem
culpa: naquela altura, o kibbutz
e
a penumbra ideológica que lhe estava associada ainda retinham laivos
do ethos
inocente
de «amor livre» dos cultos radicais de princípios do século XX.
Na verdade, é claro que eram comunidades provincianas e muito conservadoras, e a sua regidez ideológica camuflava o horizonte
limitado de muitos dos seus membros. Mesmo em meados dos anos 60 era
já evidente que a economia de Israel não
se
baseava na pequena agricultura doméstica; e os cuidados que os
movimentos kibbutzim
de
esquerda tinham para não empregar mão-de-obra árabe, mais do que
macular as suas credenciais igualitárias isolava-os dos factos
inconvenientes da vida no Médio Oriente. Tenho a certeza de que não
percebi tudo isto na altura – embora me lembre de me questionar por
que razão nunca conheci um único árabe durante as minhas longas
estadas no kibbutz,
mesmo apesar de viver perto das comunidades árabes mais densamente
povoadas do país.”
Kibbutz Kfar Giladi, Israel
ca. 1979
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