“Que
eu tenha vivido os comboios como solidão é, evidentemente, um
paradoxo. Eles são, na expressão francesa, transports
en commun:
concebidos no início do século XIX para facultarem transporte
coletivo para pessoas que não podiam ter transporte particular ou,
com o passar dos anos, para os mais abastados que podiam ser atraídos
por acomodações partilhadas mais
luxuosos
a
preços
mais altos. Na prática, ao nomearem e classificarem os diversos
níveis de conforto, os comboios inventaram as classes sociais na sua
forma moderna: tal como um exemplo dos primeiros tempos pode
ilustrar, durante décadas os comboios andavam apinhados e eram
desconfortáveis, exceto para os afortunados que pudessem viajar em
primeira classe. Mas na minha época a segunda classe era mais do que
aceitável para a classe média; e em Inglaterra, essas pessoas
isolavam-se. Naqueles dias ditosos antes dos telemóveis, quando era
inaceitável ter um rádio a tocar num local público (e a autoridade
do revisor bastava para reprimir espíritos rebeldes), o comboio era
um local magnífico e silencioso.”
Judt,
Tony, O
Chalet da Memória,
Lisboa, Edições 70, 2011, pp. 74-75.
Locomotives [quartier de la Goutte d'Or, 18e arrondissement]
Agence Rol
1928
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