“A
essência do sionismo trabalhista, à época ainda fiel aos seus
dogmas de fundação, consistia na promessa de trabalho judaico: a
noção de que os jovens judeus da diáspora seriam resgatados das
suas vidas estéreis e assimiladas e transportados para colonatos
coletivos nos confins da Palestina rural – e ali criariam (e,
segundo a ideologia, recriariam) um campesinato judaico, que nem
explorava nem era explorado. Tendo a sua origem, em igual medida, nas
utopias socialistas do início do século XIX e em mitos russos
posteriores de comunidades igualitárias rurais, o sionismo
trabalhista estava caracteristicamente fragmentado em cultos
sectários antagónicos: havia os que achavam que no kibbutz
toda
a gente se devia vestir de igual, educar os filhos e comer em
conjunto, e usar (mas não possuir) mobília e artigos da casa
idênticos, até livros, decidindo coletivamente todo e qualquer
aspeto das suas vidas numa reunião semanal obrigatória. Alterações
ligeiras ao cerne da doutrina permitiam alguma variedade do estilo de
vida e até um mínimo de bens pessoais. E depois havia variadíssimas
gradações entre membros do kibbutz,
muitas vezes resultado de um conflito pessoal ou familiar que assumia
a forma de desacordo fundamentalista.
Mas
estávamos todos de acordo quanto ao propósito moral mais lato:
trazer judeus de regresso à terra e separá-los do seu
abastardamento desenraizado da diáspora.”
Judt, Tony, O Chalet da Memória, Lisboa, Edições 70, 2011, pp. 98-99.
ca. 1977
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