23 de junho de 2022

Kibbutz

A essência do sionismo trabalhista, à época ainda fiel aos seus dogmas de fundação, consistia na promessa de trabalho judaico: a noção de que os jovens judeus da diáspora seriam resgatados das suas vidas estéreis e assimiladas e transportados para colonatos coletivos nos confins da Palestina rural – e ali criariam (e, segundo a ideologia, recriariam) um campesinato judaico, que nem explorava nem era explorado. Tendo a sua origem, em igual medida, nas utopias socialistas do início do século XIX e em mitos russos posteriores de comunidades igualitárias rurais, o sionismo trabalhista estava caracteristicamente fragmentado em cultos sectários antagónicos: havia os que achavam que no kibbutz toda a gente se devia vestir de igual, educar os filhos e comer em conjunto, e usar (mas não possuir) mobília e artigos da casa idênticos, até livros, decidindo coletivamente todo e qualquer aspeto das suas vidas numa reunião semanal obrigatória. Alterações ligeiras ao cerne da doutrina permitiam alguma variedade do estilo de vida e até um mínimo de bens pessoais. E depois havia variadíssimas gradações entre membros do kibbutz, muitas vezes resultado de um conflito pessoal ou familiar que assumia a forma de desacordo fundamentalista.
Mas estávamos todos de acordo quanto ao propósito moral mais lato: trazer judeus de regresso à terra e separá-los do seu abastardamento desenraizado da diáspora.”

Judt, Tony, O Chalet da Memória, Lisboa, Edições 70, 2011, pp. 98-99.


Kibbutz Genesaré, Israel
ca. 1977

Sem comentários:

Enviar um comentário