“Em
linha com uma longa tradição, tanto Oxford como Cambridge
empregavam pessoal cuja tarefa exclusiva era cuidar dos jovens. Em
Oxford, estas pessoas eram conhecidas como «scouts»; em Cambridge,
eram os «bedders». A distinção era uma questão de convenção –
embora as palavras sugerissem uma nuance
interessante
na forma de supervisão que se exigia que executassem – mas a
função era idêntica. Dos bedders,
tal como dos scouts,
esperava-se
que acendessem a lareira (nos tempos em que era este o aquecimento),
limpassem os quartos dos jovens
cavalheiros,
fizessem as camas e mudassem os lençóis, se encarregassem de
pequenas compras e, em geral, lhes prestassem todo o tipo de serviços
que se presumia que a educação dos jovens cavalheiros os habituara.
É verdade que na descrição de funções estavam implícitos outros pressupostos. Os estudantes de Oxbridge, julgava-se, eram incapazes de desempenhar estas tarefas subalternas: porque nunca as tinham feito mas também porque as suas aspirações e interesses os punham acima de tais preocupações. Além disso, e talvez acima de tudo, o bedder era responsável por manter debaixo de olho a condição moral de quem tinha a seu cargo (em Oxford, os scouts por vezes eram homens, embora isso fosse raro na década de 60; na minha experiência, os bedders eram quase sempre mulheres).
É verdade que na descrição de funções estavam implícitos outros pressupostos. Os estudantes de Oxbridge, julgava-se, eram incapazes de desempenhar estas tarefas subalternas: porque nunca as tinham feito mas também porque as suas aspirações e interesses os punham acima de tais preocupações. Além disso, e talvez acima de tudo, o bedder era responsável por manter debaixo de olho a condição moral de quem tinha a seu cargo (em Oxford, os scouts por vezes eram homens, embora isso fosse raro na década de 60; na minha experiência, os bedders eram quase sempre mulheres).
(...)
A
maioria dos bedders
eram
senhoras de alguma idade, geralmente de famílias locais
que
já estavam ao serviço da faculdade ou da universidade há imenso
tempo. Estavam, por isso, familiarizadas com a cultura de «serviço»
e a interação sutil entre autoridade e humildade intrínseca às
relações senhor/servo."
Judt, Tony, O Chalet da Memória, Lisboa, Edições 70, 2011, pp. 105-107.
Richard Harraden
1797
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