Nuestro enemigo común: el fascismo
Nuestra arma común: la unidad"
"Pancartas colocadas con motivo de la fiesta de despedida en honor de las Brigadas Internacionales a los que han combatido voluntariamente en los frentes de la España republicana"
"O diletante, com efeito, corre entre as ideias e os factos como as borboletas (a quem é desde séculos comparado) correm entre as flores, para pousar, retomar logo o voo estouvado, encontrando nessa fugidia mutabilidade o deleite supremo." Eça de Queirós, A Correspondência de Fradique Mendes (Memórias e Notas)
“Com a minha infância, se me permitem um depoimento formal, passa-se qualquer coisa de curioso, de ambíguo. Entro e saio nela quase sem dar por isso, às vezes mesmo não reparo ou não sei se estou para trás ou fiquei aqui e agora. De dia sou menino, à noite velho caquéctico e o contrário também pode acontecer. Às vezes demoro-me mais tempo num dos extremos ― são o que eu chamo as minhas crises. Outras, ainda, acumulo os tempos, crio-me uma infância lógica e paralela, ganha-me uma talvez pureza e fico-me a vê-la, ora maravilhado, ora irritado, ora assustado, com o olhar cheio de ronha do macróbio que já viu muito filho de muita mãe e de si próprio duvida mais do que todos e do que de todos. A verdade é que ainda não me decidi por uma idade certa, continuada. Ou um tempo.”
Pacheco, Luiz, O Teodolito, Setúbal, Estuário, 1990, p. 34.
“Nas últimas duas gerações, os europeus ocidentais perderam ou abandonaram muitas das tradicionais instituições integradoras da vida pública moderna. Quando comparado com há meio século, o papel da família, da Igreja ou do exército é hoje ínfimo na maioria dos países ocidentais. Os partidos políticos e os sindicatos já não desempenham a função pedagógica e organizativa que tiveram na Europa durante mais de um século. Ao mesmo tempo, as pressões económicas estão a tentar os governos a reduzir os benefícios adquiridos da segurança social, e estão a desaparecer os componentes essenciais daquilo a que os Franceses chamam solidarité. Pode muito bem acontecer que a nação – com a comunhão de memória que a representa e o Estado que a simboliza, com o seu enquadramento familiar e ajustado – seja a única fonte coletiva e de identificação comunal que reste, e também a mais adaptável. Dado o colapso impressionante dos grandes objetivos universais e abstratos da utopia socialista, e da promessa insustentável de uma união continental cada vez maior e mais próspera, talvez as virtudes de uma unidade social baseada na propriedade geográfica e radicadas no passado, em vez de no futuro, tenham sido mitigadas. Seja como for, uma maior atenção às virtudes da nação e ao seu Estado, por parte dos políticos respeitáveis (e, por contraste, menos atenção às maravilhas da «Europa»), podem ajudar a recuperá-la dos braços dos seus pretendentes mais extremistas.”
Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, pp. 119-120.
“Mas uma infância só tem um sentido, só presta, se conseguimos sair dela, se teve resultado, isto é, se deu (e nós com ela, nós pós ela) para algum lado. Ora isto não é assim como se julga. Há os que avançam um bocadinho, mas depois param na adolescência ― e são rapazolas toda a vida e chegam a velhos, quando chegam, e só fizeram foi rapaziadas. Outros ficam sempre sendo garotos mimalhos. Nada disto é coisa de louvar ― no plano sociológico (no de cada um, tanto faz). Tudo se quer a seu tempo. O pior, o difícil, é haver só (e uma vez só) um tempo para cada coisa ou estado ou atitude. Um tempo certo para cada jogada, como no xadrez. Uma táctica subordinada a uma estratégia coerente, premeditadas ambas. Uma práxis ou etiqueta. Digamos: uma teoria e a prática teimosa logo e sempre dessa teoria. Um tempo, o lugar e a fórmula: um lar e pais e beijos e brinquedos para a infância; uma luz e amigos e namoradinhas para a adolescência; uma força e um gesto e o Amor para a idade adulta; um exemplo e uma dignidade e um silêncio para a velhice. Um tempo de liberdade para cada coisa e cada um. Ou: um tempo de coragem e desespero para lutar para conquistar essa liberdade necessária e essa cada coisa, a cada um. Talvez uma Pátria. Um amigo, ou dois, não seria demais. Inimigos, os que a nossa intransigência criasse. E filhos, muitos filhos ― nossos juízes, nossa aposta no futuro.”
Pacheco, Luiz, O Teodolito, Setúbal, Estuário, 1990, pp. 32-34.
“A União Soviética em tempos atraiu muitos intelectuais ocidentais como combinação promissora de ambição filosófica e poder administrativo, e a «Europa» tem alguma da mesma sedução. Para os seus admiradores, como para tantos políticos e homens de negócios das regiões mais avançadas da Europa Ocidental e Central, a «União» é o mais recente herdeiro do despotismo esclarecido da última grande era reformista antes do advento dos Estados nacionais. Pois, afinal, o que é «Bruxelas» senão uma nova tentativa para alcançar esse ideal de administração universal, eficiente, desprovida de particularismos e animada pelo cálculo racional e o primado da lei, que os grandes monarcas setecentistas – Catarina, Frederico, Maria Teresa e José II – se esforçaram por instituir nas suas terras decrépitas? Essa mesma racionalidade do ideal da Comunidade Europeia tornou-a atrativa, em especial para a intelligentsia culta das profissões liberais que, tanto no Ocidente como no Leste, vê em «Bruxelas» um escape a práticas conservadoras e atrasos provincianos, muito à imagem dos advogados, comerciantes e escritores do século XVIII que apelavam aos monarcas esclarecidos, passando por cima dos parlamentos e dietas reacionários.”
Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, pp. 115-116.
“Se há elemento na atual situação europeia que por si só garante que a Europa pós-1989 não tem hipótese de repetir o sucesso da era pós-1945 é a presença – ou, melhor, o ressentimento popular ante a presença – de imigrantes. O que é especialmente irónico, pois estes imigrantes (ou os seus pais e avós, pois muitos dos que ainda são vistos como imigrantes na Alemanha, em França ou na Grã-Bretanha já ali nasceram) foram assiduamente incentivados a abandonar as Índias Ocidentais, a África Ocidental ou o Próximo Oriente e o Sul da Europa, para virem para países onde a sua mão de obra pouco ou nada qualificada era desesperadamente necessária nas velhas indústrias e novos serviços. Em meados da década de 50, grande parte da Europa Ocidental sofrera uma quebra demográfica tripla, causada pelas perdas da I Guerra Mundial, pela escassez de nascimentos durante essa guerra e pela segunda vaga de mortes de civis e militares da II Guerra Mundial. Em Berlim Ocidental, no seguimento da construção do Muro, os turcos foram ativamente recrutados para preencherem postos de trabalhos que haviam sido de alemães. Tal como muitos outros, estes imigrantes ajudaram a criar o milagre económico da Europa Ocidental, e não só porque eram jovens e baratos, pois em muitos casos vieram para a Europa depois de acabarem o ensino, mas muito antes de se tornarem um fardo para os serviços de saúde. Foram o melhor negócio que a Europa alguma vez fez e a última – e duradoura – vantagem da conquista imperial.”
Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, p. 104.
“Após 1945, o preconceito, fosse na sua forma europeia tradicional de antissemitismo ou em variantes mais imperiais, era desconsiderado. Durante muito tempo depois da guerra, a Europa Ocidental foi um palco privilegiado no qual a linguagem racista era malvista, onde não havia partidos extremistas, o direito de asilo era amplamente reconhecido e aquele passado, a história recente de discriminação, exploração e extermínio, veementemente rejeitado. Que isto era uma transformação, pode ser confirmado por qualquer comparação com, por exemplo, a imprensa e a literatura dos anos 30, tanto em França e na Bélgica, como na Itália ou na Alemanha. Foi tanto mais fácil de levar a cabo porque estava perfeitamente em conformidade com a autoimagem da «nova Europa», que assim parecia praticar na sua política de porta aberta aquilo que parecia pregar nas suas convenções legais. Mas teve um fim embaraçosamente abrupto quando os políticos de todos os quadrantes se esgadanharam para reconquistar a iniciativa política aos demagogos anti-imigrantes, autorizando assim, implicitamente, o início de um regresso aos maus velhos hábitos.”
Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, pp. 106-107.
“A Tabaqueira
Ao fundo desta Rua Fernando Palha, na confluência da Rua do Telhal, nasce a moderna Rua de José Henrique Tota, na qual, próximo do chamado Cais do Tota, se começou a construir em 1928 a fábrica de tabacos da «Tabaqueira», iniciativa do industrial Alfredo da Silva, aquela que nos fornece, Dilecto, estes cigarros «Paris» – os que nós fumamos –, e portanto os melhores do mundo, e os peores, porque nos fazem mal, como todos os outros.”
Araújo, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, livro XV, Lisboa, Vega, 1993, p. 80.
Araújo, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, livro XV, Lisboa, Vega, 1993, p. 56.
“Desde finais do século XIX que a Europa, tanto a Leste como a Ocidente, sofre de excesso de população rural. Apesar da migração para as cidade e da emigração para a América do Norte e do Sul, muito do campesinato europeu mal conseguia viver do seu trabalho. Depois da I Guerra Mundial, a situação agravou-se, pois os preços dos produtos agrícolas caíram três vezes mais depressa do que os dos bens não-agrícolas. Os governos democráticos pouco podiam fazer para aumentar o preço dos produtos agrícolas sem antagonizarem os seus eleitorados urbanos, e, nas circunstâncias económicas dos anos entre as duas guerras, também não estavam em situação de investir bastante em apoios à produção agrícola. Os regimes autoritários, em Espanha, Portugal e Itália, e na Europa de Leste, tentaram impor políticas destinadas a garantir a autarcia agrícola, mas estas revelaram-se um desastre económico. As elevadas taxas de desemprego nas cidades impediam que os agricultores e trabalhadores agrícolas com trabalhos parciais ou mal pagos tivessem uma ocupação alternativa. Por isso, em vários países, um campesinato deprimido, e com direito a voto, virou-se para os partidos populistas ou fascistas que prometiam uma solução para as suas queixas.”
Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, pp. 30-31.
“No seio da Europa Ocidental, a divisão importante não era este-oeste, mas norte-sul. No século XVII, a distinção estava deveras vincada. Os europeus do Norte eram caracteristicamente protestante (luteranos, calvinistas ou anglicanos), falavam uma língua de raiz germânica e estavam a ficar divididos em Estados-nação com fronteiras definidas nitidamente. Os europeus do Sul falavam uma língua de base latina, professavam a religião católica apostólica romana e viviam em comunidades ainda governadas por imperadores ou papas. Mas estas diferenças, tão importantes na história interna da França ou da Alemanha, ou na história dos conflitos entre governantes europeus ocidentais, nunca adquiriram a importância da divisão entre o Leste e o Ocidente. E isto porque desde o começo da sua história moderna que a Europa Ocidental esteve ligada por laços comerciais e culturais que transcendem as suas divisões internas; desde o renascimento urbano do século XII até ao iluminismo do século XVIII, a história da parte ocidental da Europa tem sido uma história comum e característica.”
Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, pp. 57-58.
“Lactário da Infância
No Largo do Museu de Artilharia aí tens o Lactário da Associação Protectora da Infância Desvalida, instituição fundada em 1901 por um grupo de indivíduos, entre os quais o general Matias Nunes, que foi director da Fundição de Canhões, José Evaristo de Morais Sarmento, Domingos e José Luiz de Morais, Henrique Charters de Azevedo, Manuel Vaquinhas, todos bairristas de Santa Clara e do Jardim do Tabaco. O edifício é do risco de Ventura Terra (1901).”
Araújo, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, livro XV, Lisboa, Vega, 1993, p. 12.
“Supõe-se, por vezes, hoje que a linha que divide a Europa de Leste da Europa Ocidental foi uma criação artificial da Guerra Fria, uma cortina de ferro que se puxara, caprichosa e recentemente, sobre um espaço cultural único. Não é verdade. No século XIX, muito depois de os governantes Habsburgos terem estabelecido uma autoridade de facto sobre territórios que se estendiam até bem dentro daquilo que é hoje a Ucrânia, o chanceler austríaco Metternich, numa expressão que ficou célebre, podia dizer que a Ásia começava na Landstrasse, a estrada que sai de Viana em direção a leste.”
Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, pp. 54-55.
"Quem foi a última comendadeira da Ordem de Sant'Iago da Espada do Mosteiro de Santos-o-Novo?