31 de julho de 2022

Inimigo comum


Carteles, pancartas, grafitos y otros (pp. 75-76)
entre 1936 y 1939

"Al volver a nuestros paises, nosotros, Internacionales, repetiremos por todas partes vuestras lecciones:
Nuestro enemigo común: el fascismo
Nuestra arma común: la unidad"

"Pancartas colocadas con motivo de la fiesta de despedida en honor de las Brigadas Internacionales a los que han combatido voluntariamente en los frentes de la España republicana"

30 de julho de 2022

Pureza antiga

    Onde estarão agora os que foram meninos comigo, meus companheiros de bibe e calção? gostava de ir lá vê-los à nossa infância, de irmos todos, reconhecermos todos como nossa ainda a pureza antiga, os projectos que enterrámos, as ilusões, os actos falhados. E, com efeito, o mundo dos adultos está cada vez mais triste, mais crápula, mais ratazana. É uma bicharada que vai a correr pró buraco do coval, comprometida e lassa, sem alegria, sem carácter, sem sentimentos, sem dignidade nenhuma. Não são gente: são baratas medrosas, assustadas sempre, que andam de luto por eles-mesmos e se escondem quando pressentem uma luz, a ousadia dum gesto, a virtude duma palavra. Adultos, cadáveres de jovens. Metem dó, metem nojo, tão velhinhos e tão resignados. Cagarolas. Gostaria de os tornar a ver como eram, na infância.”

Pacheco, Luiz, O Teodolito, Setúbal, Estuário, 1990, pp. 37-38.

Luanda: Assistência à Criança (Medição)
Agência Geral do Ultramar, Angola

29 de julho de 2022

28 de julho de 2022

Infância lógica e paralela

    Com a minha infância, se me permitem um depoimento formal, passa-se qualquer coisa de curioso, de ambíguo. Entro e saio nela quase sem dar por isso, às vezes mesmo não reparo ou não sei se estou para trás ou fiquei aqui e agora. De dia sou menino, à noite velho caquéctico e o contrário também pode acontecer. Às vezes demoro-me mais tempo num dos extremos ― são o que eu chamo as minhas crises. Outras, ainda, acumulo os tempos, crio-me uma infância lógica e paralela, ganha-me uma talvez pureza e fico-me a vê-la, ora maravilhado, ora irritado, ora assustado, com o olhar cheio de ronha do macróbio que já viu muito filho de muita mãe e de si próprio duvida mais do que todos e do que de todos. A verdade é que ainda não me decidi por uma idade certa, continuada. Ou um tempo.”

Pacheco, Luiz, O Teodolito, Setúbal, Estuário, 1990, p. 34.

Parque Eduardo VII, crianças brincando
Firmino Marques da Costa
ca. 1950

27 de julho de 2022

Identificação comunal

    Nas últimas duas gerações, os europeus ocidentais perderam ou abandonaram muitas das tradicionais instituições integradoras da vida pública moderna. Quando comparado com há meio século, o papel da família, da Igreja ou do exército é hoje ínfimo na maioria dos países ocidentais. Os partidos políticos e os sindicatos já não desempenham a função pedagógica e organizativa que tiveram na Europa durante mais de um século. Ao mesmo tempo, as pressões económicas estão a tentar os governos a reduzir os benefícios adquiridos da segurança social, e estão a desaparecer os componentes essenciais daquilo a que os Franceses chamam solidarité. Pode muito bem acontecer que a nação – com a comunhão de memória que a representa e o Estado que a simboliza, com o seu enquadramento familiar e ajustado – seja a única fonte coletiva e de identificação comunal que reste, e também a mais adaptável. Dado o colapso impressionante dos grandes objetivos universais e abstratos da utopia socialista, e da promessa insustentável de uma união continental cada vez maior e mais próspera, talvez as virtudes de uma unidade social baseada na propriedade geográfica e radicadas no passado, em vez de no futuro, tenham sido mitigadas. Seja como for, uma maior atenção às virtudes da nação e ao seu Estado, por parte dos políticos respeitáveis (e, por contraste, menos atenção às maravilhas da «Europa»), podem ajudar a recuperá-la dos braços dos seus pretendentes mais extremistas.”

Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, pp. 119-120.


Stefanos
Grécia
2013

26 de julho de 2022

Um tempo certo para cada jogada

Mas uma infância só tem um sentido, só presta, se conseguimos sair dela, se teve resultado, isto é, se deu (e nós com ela, nós pós ela) para algum lado. Ora isto não é assim como se julga. Há os que avançam um bocadinho, mas depois param na adolescência ― e são rapazolas toda a vida e chegam a velhos, quando chegam, e só fizeram foi rapaziadas. Outros ficam sempre sendo garotos mimalhos. Nada disto é coisa de louvar ― no plano sociológico (no de cada um, tanto faz). Tudo se quer a seu tempo. O pior, o difícil, é haver só (e uma vez só) um tempo para cada coisa ou estado ou atitude. Um tempo certo para cada jogada, como no xadrez. Uma táctica subordinada a uma estratégia coerente, premeditadas ambas. Uma práxis ou etiqueta. Digamos: uma teoria e a prática teimosa logo e sempre dessa teoria. Um tempo, o lugar e a fórmula: um lar e pais e beijos e brinquedos para a infância; uma luz e amigos e namoradinhas para a adolescência; uma força e um gesto e o Amor para a idade adulta; um exemplo e uma dignidade e um silêncio para a velhice. Um tempo de liberdade para cada coisa e cada um. Ou: um tempo de coragem e desespero para lutar para conquistar essa liberdade necessária e essa cada coisa, a cada um. Talvez uma Pátria. Um amigo, ou dois, não seria demais. Inimigos, os que a nossa intransigência criasse. E filhos, muitos filhos ― nossos juízes, nossa aposta no futuro.”

Pacheco, Luiz, O Teodolito, Setúbal, Estuário, 1990, pp. 32-34.

Mário Viegas na infância
1953
Museu Nacional do Teatro

"Fotografia do actor Mário Viegas na infância com a irmã e primos tirada na Amadora em 1953"

25 de julho de 2022

A «União»

    A União Soviética em tempos atraiu muitos intelectuais ocidentais como combinação promissora de ambição filosófica e poder administrativo, e a «Europa» tem alguma da mesma sedução. Para os seus admiradores, como para tantos políticos e homens de negócios das regiões mais avançadas da Europa Ocidental e Central, a «União» é o mais recente herdeiro do despotismo esclarecido da última grande era reformista antes do advento dos Estados nacionais. Pois, afinal, o que é «Bruxelas» senão uma nova tentativa para alcançar esse ideal de administração universal, eficiente, desprovida de particularismos e animada pelo cálculo racional e o primado da lei, que os grandes monarcas setecentistas – Catarina, Frederico, Maria Teresa e José II – se esforçaram por instituir nas suas terras decrépitas? Essa mesma racionalidade do ideal da Comunidade Europeia tornou-a atrativa, em especial para a intelligentsia culta das profissões liberais que, tanto no Ocidente como no Leste, vê em «Bruxelas» um escape a práticas conservadoras e atrasos provincianos, muito à imagem dos advogados, comerciantes e escritores do século XVIII que apelavam aos monarcas esclarecidos, passando por cima dos parlamentos e dietas reacionários.”

Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, pp. 115-116.

A bandeira europeia

24 de julho de 2022

Umbelina

     Estamos os dois sentados num canapé de palhinha. Enquanto a Umbelina me fazia furtivas festas sobre as calças, a berguilha e mais para a esquerda, eu percebia que o caralho se ia desenroscando, desenvolvendo em brandas pulsações rítmicas, agitadas, em movimentos autónomos, preenchendo o côncavo das cuecas, vibrando na esperta mãozinha e transmitindo-lhe uma frenética atividade. Não sei por que ela, a Umbelina ou a mão? as mãos são órgãos inteligentes, voluntariosos, sábias, ela não desconhecia o membro, era tão fácil, bastava desabotoar duas ou três casas, abrir caminho, dar-lhe liberdade.”

Pacheco, Luiz, O Teodolito, Setúbal, Estuário, 1990, p. 15.

Canapé
1790 - 1820
Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves

23 de julho de 2022

Migrações

    Se há elemento na atual situação europeia que por si só garante que a Europa pós-1989 não tem hipótese de repetir o sucesso da era pós-1945 é a presença – ou, melhor, o ressentimento popular ante a presença – de imigrantes. O que é especialmente irónico, pois estes imigrantes (ou os seus pais e avós, pois muitos dos que ainda são vistos como imigrantes na Alemanha, em França ou na Grã-Bretanha já ali nasceram) foram assiduamente incentivados a abandonar as Índias Ocidentais, a África Ocidental ou o Próximo Oriente e o Sul da Europa, para virem para países onde a sua mão de obra pouco ou nada qualificada era desesperadamente necessária nas velhas indústrias e novos serviços. Em meados da década de 50, grande parte da Europa Ocidental sofrera uma quebra demográfica tripla, causada pelas perdas da I Guerra Mundial, pela escassez de nascimentos durante essa guerra e pela segunda vaga de mortes de civis e militares da II Guerra Mundial. Em Berlim Ocidental, no seguimento da construção do Muro, os turcos foram ativamente recrutados para preencherem postos de trabalhos que haviam sido de alemães. Tal como muitos outros, estes imigrantes ajudaram a criar o milagre económico da Europa Ocidental, e não só porque eram jovens e baratos, pois em muitos casos vieram para a Europa depois de acabarem o ensino, mas muito antes de se tornarem um fardo para os serviços de saúde. Foram o melhor negócio que a Europa alguma vez fez e a última – e duradoura – vantagem da conquista imperial.”

Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, p. 104.

The Rape of Europa
Paolo Veronese
ca. 1570
National Gallery

21 de julho de 2022

Maus velhos hábitos

 Após 1945, o preconceito, fosse na sua forma europeia tradicional de antissemitismo  ou em variantes mais imperiais, era desconsiderado. Durante muito tempo depois da guerra, a Europa  Ocidental foi um palco privilegiado no qual a linguagem racista era malvista, onde não havia partidos extremistas, o direito de asilo era amplamente reconhecido e aquele passado, a história recente de discriminação, exploração e extermínio, veementemente rejeitado. Que isto era uma transformação, pode ser confirmado por qualquer comparação com, por exemplo, a imprensa e a literatura dos anos 30, tanto em França e na Bélgica, como na Itália ou na Alemanha. Foi tanto mais fácil de levar a cabo porque estava perfeitamente em conformidade com a autoimagem da «nova Europa», que assim parecia praticar na sua política de porta aberta aquilo que parecia pregar nas suas convenções legais. Mas teve um fim embaraçosamente abrupto quando os políticos de todos os quadrantes se esgadanharam para reconquistar a iniciativa política aos demagogos anti-imigrantes, autorizando assim, implicitamente, o início de um regresso aos maus velhos hábitos.”

Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, pp. 106-107.


Fight Racism
early 1980s

20 de julho de 2022

A Tabaqueira

A Tabaqueira

Ao fundo desta Rua Fernando Palha, na confluência da Rua do Telhal, nasce a moderna Rua de José Henrique Tota, na qual, próximo do chamado Cais do Tota, se começou a construir em 1928 a fábrica de tabacos da «Tabaqueira», iniciativa do industrial Alfredo da Silva, aquela que nos fornece, Dilecto, estes cigarros «Paris» – os que nós fumamos –, e portanto os melhores do mundo, e os peores, porque nos fazem mal, como todos os outros.”

Araújo, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, livro XV, Lisboa, Vega, 1993, p. 80.

[Alfredo da Silva e colaboradores frente ao edifício da Tabaqueira]
[entre 1890 e 192-?]


19 de julho de 2022

Classe urbana de excluídos

     A conjugação de crescimento rápido – com as cidades a expandirem-se e as comunidades urbanas e suburbanas a serem transformadas – e a subsequente estagnação económica trouxeram à Europa Ocidental não só uma nova ameaça de insegurança económica, algo que era desconhecido para muitos europeus desde finais da década de 40, mas também maior perturbação social e risco físico do que em qualquer outra altura desde o início da Revolução Industrial. Hoje, vemos por toda a Europa cidades-satélite desoladoras, subúrbios degradados, e guetos urbanos sem futuro. Mesmo as grandes capitais – Londres, Paris, Roma – já não são tão limpas, seguras ou plenas de esperança como eram há 30 anos. Elas e dezenas de cidades de província, de Lyon a Lübeck, estão a criar uma classe urbana de excluídos, que se divide entre os que são detestados, geralmente estrangeiros, amiúde de pele escura, e os que detestam (jovens, predominantemente homens, quase todos brancos). Se esta evolução deprimente dos últimos 20 anos ainda não teve consequências políticas e sociais mais explosivas, o mérito deve-se ao sistema de segurança social com que os europeus ocidentais se muniram após 1945.”

Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, p. 99.


Suburban Train

Gerd Winner
1970

18 de julho de 2022

Xabregas

“Etimologia de “Xabregas”
    Quanto à origem da palavra «Enxobregas» dizem alguns etimologistas – e eu repito, por verosímil – que por aqui cêrca, certamente mais para dentro de terra, havia um lavadouro onde as mulheres se desavinham, batendo palavras e roupa ao mesmo tempo. Essas discórdias degeneraram, por vezes, em brigas, e, então, outras mulheres mais sensatas, ou dessa vez alheias ao conflito, gritavam no apaziguamento: «leixa bregas». «Leixa» equivale, como sabes, a «deixa» e «bregas» a brigas.
    O «Leixa Bregas» deu «Enxobregas». A caida para Xabregas é a fatal na redução e apócope.
    E aí está o que te digo, Dilecto, àcêrca da «fonte» da palavra Xabregas.”

Araújo, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, livro XV, Lisboa, Vega, 1993, p. 56.


"Grupo de garotos tomando banho na praia de Xabregas"
1943

17 de julho de 2022

Campesinato europeu

 Desde finais do século XIX que a Europa, tanto a Leste como a Ocidente, sofre de excesso de população rural. Apesar da migração para as cidade e da emigração para a América do Norte e do Sul, muito do campesinato europeu mal conseguia viver do seu trabalho. Depois da I Guerra Mundial, a situação agravou-se, pois os preços dos produtos agrícolas caíram três vezes mais depressa do que os dos bens não-agrícolas. Os governos democráticos pouco podiam fazer para aumentar o preço dos produtos agrícolas sem antagonizarem os seus eleitorados urbanos, e, nas circunstâncias económicas dos anos entre as duas guerras, também não estavam em situação de investir bastante em apoios à produção agrícola. Os regimes autoritários, em Espanha, Portugal e Itália, e na Europa de Leste, tentaram impor políticas destinadas a garantir a autarcia agrícola, mas estas revelaram-se um desastre económico. As elevadas taxas de desemprego nas cidades impediam que os agricultores e trabalhadores agrícolas com trabalhos parciais ou mal pagos tivessem uma ocupação alternativa. Por isso, em vários países, um campesinato deprimido, e com direito a voto, virou-se para os partidos populistas ou fascistas que prometiam uma solução para as suas queixas.”

Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, pp. 30-31.


Carro de bois
José Artur Leitão Bárcia
[entre 1890 e 1945]

16 de julho de 2022

Colunas do Palácio Foz

Museu de Artilharia
    O pórtico, do Largo do Museu, antigo Largo da Fundição, data de 1874, alargado de um portal anterior; o pórtico nobilíssimo do Largo dos Caminhos de Ferro começou a construir-se em 1895; a fachada, voltada ao rio, na Rua Teixeira Lopes, é também dêste século, e assim mais moderna que as fachadas nascente e poente, havendo-se aproveitado as colunas (nove) e a balaustrada que faziam parte da rica capela de N. S. da Pureza, no Palácio Foz, aos Restauradores.”

Araújo, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, livro XV, Lisboa, Vega, 1993, p. 13.

Museu Militar
Paulo Guedes
[post. 1908]

15 de julho de 2022

Europa do Norte e Europa do Sul

    No seio da Europa Ocidental, a divisão importante não era este-oeste, mas norte-sul. No século XVII, a distinção estava deveras vincada. Os europeus do Norte eram caracteristicamente protestante (luteranos, calvinistas ou anglicanos), falavam uma língua de raiz germânica e estavam a ficar divididos em Estados-nação com fronteiras definidas nitidamente. Os europeus do Sul falavam uma língua de base latina, professavam a religião católica apostólica romana e viviam em comunidades ainda governadas por imperadores ou papas. Mas estas diferenças, tão importantes na história interna da França ou da Alemanha, ou na história dos conflitos entre governantes europeus ocidentais, nunca adquiriram a importância da divisão entre o Leste e o Ocidente. E isto porque desde o começo da sua história moderna que a Europa Ocidental esteve ligada por laços comerciais e culturais que transcendem as suas divisões internas; desde o renascimento urbano do século XII até ao iluminismo do século XVIII, a história da parte ocidental da Europa tem sido uma história comum e característica.”

Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, pp. 57-58.


O Rapto de Europa
Félix Vallotton 
1908
Museu de Belas Artes de Berna

14 de julho de 2022

Lactário

Lactário da Infância

No Largo do Museu de Artilharia aí tens o Lactário da Associação Protectora da Infância Desvalida, instituição fundada em 1901 por um grupo de indivíduos, entre os quais o general Matias Nunes, que foi director da Fundição de Canhões, José Evaristo de Morais Sarmento, Domingos e José Luiz de Morais, Henrique Charters de Azevedo, Manuel Vaquinhas, todos bairristas de Santa Clara e do Jardim do Tabaco. O edifício é do risco de Ventura Terra (1901).”

Araújo, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, livro XV, Lisboa, Vega, 1993, p. 12.


Lactário da Associação Protectora à Primeira Infância
Paulo Guedes
[19--]

13 de julho de 2022

Europa de Leste e Europa Ocidental

Supõe-se, por vezes, hoje que a linha que divide a Europa de Leste da Europa Ocidental foi uma criação artificial da Guerra Fria, uma cortina de ferro que se puxara, caprichosa e recentemente, sobre um espaço cultural único. Não é verdade. No século XIX, muito depois de os governantes Habsburgos terem estabelecido uma autoridade de facto sobre territórios que se estendiam até bem dentro daquilo que é hoje a Ucrânia, o chanceler austríaco Metternich, numa expressão que ficou célebre, podia dizer que a Ásia começava na Landstrasse, a estrada que sai de Viana em direção a leste.”

Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, pp. 54-55.



Europa Política
Estados, Cidades, Caminhos de Ferro, Linhas de Navegação
Joseph Forest
1947

12 de julho de 2022

Última comendadeira da Ordem de Santiago da Espada

"Quem foi a última comendadeira da Ordem de Sant'Iago da Espada do Mosteiro de Santos-o-Novo?

(...) D. Maria Alexandrina de Portugal da Silveira de Barros e Vasconcelos, marquesa de São Paio, que foi nomeada vigária do Mosteiro de Santos-o-Novo, a 10 de Agosto de 1893. Superiora a 19 de Agosto de 1896 e Comendadeira, por decreto de 30 de Junho de 1897.
    Nasceu em Setúbal até 19 de abril de 1819 e faleceu a 17 de setembro de 1903." daqui

Ilustração, n.º 199, 1 de Abril de 1934

11 de julho de 2022

Belezas de Luís I da Baviera

Salão/galeria de belezas do Rei Ludwig I
Palácio Nymphenburg
Munique

"Today the Gallery of Beauties of King Ludwig I (reigned 1825-1848), which was originally intended for the Festsaalbau (Festival Hall Building) of the Munich Residenz, is displayed here.

Joseph Stieler was commissioned by the king to paint this famous series of beautiful women, not only ladies at the court as in Max Emanuel’s Gallery of Beauties (Room 4), but women from all classes of society.

From 1827-1850 he produced 36 portraits, of which one (Luise Baroness von Neubeck) was lost, and in 1861 Friedrich Dürck added two more (Carlotta von Breidbach-Bürresheim and Anna Greiner).

The best known are probably the "Schöne Münchnerin" (the Beauty of Munich) Helene Sedlmayr, daughter of a shoemaker, and the "Spanish" dancer Lola Montez, cause of the revolution in 1848, when Ludwig I was forced to abdicate." daqui

10 de julho de 2022

Quatro Anjinhos

Saciando a sede no fontanário dos Quatro Anjinhos
Joshua Benoliel
1908
"Inscrição no original: No Verão de 1908 as temperaturas atingiram os 35º à sombra. Eram disputados todos os locais que pudessem saciar a sede." 
daqui

9 de julho de 2022

Judaísmo

    Se Hitler nunca tivesse acontecido, o judaísmo podia muito bem ter entrado em desintegração. Com a rutura do isolamento judaico durante a parte final do século XIX em grande parte da Europa, os limites religiosos, comunitários e ritualísticos do judaísmo foram-se erodindo: séculos de ignorância e separação mútua estavam a chegar ao fim. A assimilação – através da migração, do casamento e da diluição cultural – já ia bem avançada.
    Em retrospectiva, as consequências temporárias podem ser confusas. Na Alemanha, muito judeus consideravam-se alemães – e objeto de melindre por essa mesma razão. Na Europa Central, em especial no triângulo urbano, não representativo, de Praga-Budapeste-Viena, uma intelligentsia judaica secularizada – influente nas profissões liberais – estabeleceu a base característica para a vida judaica pós-comunitária. Mas o mundo de Kafka, Kraus e Zweig estava a fragmentar-se: como dependia das circunstâncias únicas de um império liberal que se desagregava, estava impotente perante a tempestade do etnonacionalismo. Para os que procuravam as raízes culturais, pouco oferecia além de arrependimento e nostalgia.”

Judt, Tony, O Chalet da Memória, Lisboa, Edições 70, 2011, pp. 209-210.

[Cemitério judeu, Praga]
Arthur Bensabat Benarus
[191-]

7 de julho de 2022

O mercado

Mas «o mercado» – tal como o «materialismo dialético » – é apenas uma abstração: simultaneamente ultrarracional (a sua argumentação supera tudo) e o apogeu do absurdo (não pode ser questionado). Tem os seus verdadeiros crentes – pensadores medíocres quando comparamos com os pais fundadores, mas ainda assim influentes; os seus compagnons de routeque em privado podem duvidar dos princípios do dogma, mas não veem alternativa a pregá-lo; e as suas vítimas, muitas das quais nos EUA, em especial, engoliram pressurosamente o seu comprimido e proclamam aos quatro ventos as virtudes de uma doutrina cujos benefícios nunca verão.
Acima de tudo, a servidão em que uma ideologia mantém a sua gente mede-se melhor pela sua incapacidade coletiva para imaginar alternativas. Sabemos muito bem que a fé ilimitada nos mercados desregulados mata: a aplicação estrita do que até há pouco tempo, em países em desenvolvimento vulneráveis, se chamava «o consenso de Washington» – que punha a tónica numa política fiscal rigorosa, privatizações, tarifas baixas e desregulamentação – destruiu milhões de meios de subsistência. Entretanto, os «termos comerciais» rígidos em que estes remédios são disponibilizados reduziram drasticamente a esperança de vida em muitos locais. Mas, na expressão letal de Margaret Thatcher, «não há alternativa».”

Judt, Tony, O Chalet da Memória, Lisboa, Edições 70, 2011, pp. 180-181.

Moeda de ouro
Ruler: James I, King of England (James VI of Scotland)