“Se há elemento na atual situação europeia que por si só garante que a Europa pós-1989 não tem hipótese de repetir o sucesso da era pós-1945 é a presença – ou, melhor, o ressentimento popular ante a presença – de imigrantes. O que é especialmente irónico, pois estes imigrantes (ou os seus pais e avós, pois muitos dos que ainda são vistos como imigrantes na Alemanha, em França ou na Grã-Bretanha já ali nasceram) foram assiduamente incentivados a abandonar as Índias Ocidentais, a África Ocidental ou o Próximo Oriente e o Sul da Europa, para virem para países onde a sua mão de obra pouco ou nada qualificada era desesperadamente necessária nas velhas indústrias e novos serviços. Em meados da década de 50, grande parte da Europa Ocidental sofrera uma quebra demográfica tripla, causada pelas perdas da I Guerra Mundial, pela escassez de nascimentos durante essa guerra e pela segunda vaga de mortes de civis e militares da II Guerra Mundial. Em Berlim Ocidental, no seguimento da construção do Muro, os turcos foram ativamente recrutados para preencherem postos de trabalhos que haviam sido de alemães. Tal como muitos outros, estes imigrantes ajudaram a criar o milagre económico da Europa Ocidental, e não só porque eram jovens e baratos, pois em muitos casos vieram para a Europa depois de acabarem o ensino, mas muito antes de se tornarem um fardo para os serviços de saúde. Foram o melhor negócio que a Europa alguma vez fez e a última – e duradoura – vantagem da conquista imperial.”
Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, p. 104.
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