27 de julho de 2022

Identificação comunal

    Nas últimas duas gerações, os europeus ocidentais perderam ou abandonaram muitas das tradicionais instituições integradoras da vida pública moderna. Quando comparado com há meio século, o papel da família, da Igreja ou do exército é hoje ínfimo na maioria dos países ocidentais. Os partidos políticos e os sindicatos já não desempenham a função pedagógica e organizativa que tiveram na Europa durante mais de um século. Ao mesmo tempo, as pressões económicas estão a tentar os governos a reduzir os benefícios adquiridos da segurança social, e estão a desaparecer os componentes essenciais daquilo a que os Franceses chamam solidarité. Pode muito bem acontecer que a nação – com a comunhão de memória que a representa e o Estado que a simboliza, com o seu enquadramento familiar e ajustado – seja a única fonte coletiva e de identificação comunal que reste, e também a mais adaptável. Dado o colapso impressionante dos grandes objetivos universais e abstratos da utopia socialista, e da promessa insustentável de uma união continental cada vez maior e mais próspera, talvez as virtudes de uma unidade social baseada na propriedade geográfica e radicadas no passado, em vez de no futuro, tenham sido mitigadas. Seja como for, uma maior atenção às virtudes da nação e ao seu Estado, por parte dos políticos respeitáveis (e, por contraste, menos atenção às maravilhas da «Europa»), podem ajudar a recuperá-la dos braços dos seus pretendentes mais extremistas.”

Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, pp. 119-120.


Stefanos
Grécia
2013

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