“Após 1945, o preconceito, fosse na sua forma europeia tradicional de antissemitismo ou em variantes mais imperiais, era desconsiderado. Durante muito tempo depois da guerra, a Europa Ocidental foi um palco privilegiado no qual a linguagem racista era malvista, onde não havia partidos extremistas, o direito de asilo era amplamente reconhecido e aquele passado, a história recente de discriminação, exploração e extermínio, veementemente rejeitado. Que isto era uma transformação, pode ser confirmado por qualquer comparação com, por exemplo, a imprensa e a literatura dos anos 30, tanto em França e na Bélgica, como na Itália ou na Alemanha. Foi tanto mais fácil de levar a cabo porque estava perfeitamente em conformidade com a autoimagem da «nova Europa», que assim parecia praticar na sua política de porta aberta aquilo que parecia pregar nas suas convenções legais. Mas teve um fim embaraçosamente abrupto quando os políticos de todos os quadrantes se esgadanharam para reconquistar a iniciativa política aos demagogos anti-imigrantes, autorizando assim, implicitamente, o início de um regresso aos maus velhos hábitos.”
Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, pp. 106-107.
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