7 de julho de 2022

O mercado

Mas «o mercado» – tal como o «materialismo dialético » – é apenas uma abstração: simultaneamente ultrarracional (a sua argumentação supera tudo) e o apogeu do absurdo (não pode ser questionado). Tem os seus verdadeiros crentes – pensadores medíocres quando comparamos com os pais fundadores, mas ainda assim influentes; os seus compagnons de routeque em privado podem duvidar dos princípios do dogma, mas não veem alternativa a pregá-lo; e as suas vítimas, muitas das quais nos EUA, em especial, engoliram pressurosamente o seu comprimido e proclamam aos quatro ventos as virtudes de uma doutrina cujos benefícios nunca verão.
Acima de tudo, a servidão em que uma ideologia mantém a sua gente mede-se melhor pela sua incapacidade coletiva para imaginar alternativas. Sabemos muito bem que a fé ilimitada nos mercados desregulados mata: a aplicação estrita do que até há pouco tempo, em países em desenvolvimento vulneráveis, se chamava «o consenso de Washington» – que punha a tónica numa política fiscal rigorosa, privatizações, tarifas baixas e desregulamentação – destruiu milhões de meios de subsistência. Entretanto, os «termos comerciais» rígidos em que estes remédios são disponibilizados reduziram drasticamente a esperança de vida em muitos locais. Mas, na expressão letal de Margaret Thatcher, «não há alternativa».”

Judt, Tony, O Chalet da Memória, Lisboa, Edições 70, 2011, pp. 180-181.

Moeda de ouro
Ruler: James I, King of England (James VI of Scotland)

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