“Mas
«o mercado» – tal como o «materialismo dialético » – é
apenas uma abstração: simultaneamente ultrarracional (a sua
argumentação supera tudo) e o apogeu do absurdo (não pode ser
questionado). Tem os seus verdadeiros crentes – pensadores
medíocres quando comparamos com os pais fundadores, mas ainda assim
influentes; os seus compagnons
de route
– que
em privado podem duvidar dos princípios do dogma, mas não veem
alternativa a pregá-lo; e as suas vítimas, muitas das quais nos
EUA, em especial, engoliram pressurosamente o seu comprimido e
proclamam aos quatro ventos as virtudes de uma doutrina cujos
benefícios nunca verão.
Acima
de tudo, a servidão em que uma ideologia mantém a sua gente mede-se
melhor pela sua incapacidade coletiva para imaginar alternativas.
Sabemos muito bem que a fé ilimitada nos mercados desregulados mata:
a aplicação estrita do que até há pouco tempo, em países em
desenvolvimento vulneráveis, se chamava «o consenso de Washington»
– que punha a tónica numa política fiscal rigorosa,
privatizações, tarifas baixas e desregulamentação – destruiu
milhões de meios de subsistência. Entretanto, os «termos
comerciais» rígidos em que estes remédios são disponibilizados
reduziram drasticamente a esperança de vida em muitos locais. Mas,
na expressão letal de Margaret Thatcher, «não há alternativa».”
Judt, Tony, O Chalet da Memória, Lisboa, Edições 70, 2011, pp. 180-181.
Moeda de ouro
Ruler: James I, King of England (James VI of Scotland)
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