25 de julho de 2022

A «União»

    A União Soviética em tempos atraiu muitos intelectuais ocidentais como combinação promissora de ambição filosófica e poder administrativo, e a «Europa» tem alguma da mesma sedução. Para os seus admiradores, como para tantos políticos e homens de negócios das regiões mais avançadas da Europa Ocidental e Central, a «União» é o mais recente herdeiro do despotismo esclarecido da última grande era reformista antes do advento dos Estados nacionais. Pois, afinal, o que é «Bruxelas» senão uma nova tentativa para alcançar esse ideal de administração universal, eficiente, desprovida de particularismos e animada pelo cálculo racional e o primado da lei, que os grandes monarcas setecentistas – Catarina, Frederico, Maria Teresa e José II – se esforçaram por instituir nas suas terras decrépitas? Essa mesma racionalidade do ideal da Comunidade Europeia tornou-a atrativa, em especial para a intelligentsia culta das profissões liberais que, tanto no Ocidente como no Leste, vê em «Bruxelas» um escape a práticas conservadoras e atrasos provincianos, muito à imagem dos advogados, comerciantes e escritores do século XVIII que apelavam aos monarcas esclarecidos, passando por cima dos parlamentos e dietas reacionários.”

Judt, Tony, Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa, Lisboa, Edições 70, 2012, pp. 115-116.

A bandeira europeia

Sem comentários:

Enviar um comentário