“Se
Hitler nunca tivesse acontecido, o judaísmo podia muito bem ter
entrado em desintegração. Com a rutura do isolamento judaico
durante a parte final do século XIX em grande parte da Europa, os
limites religiosos, comunitários e ritualísticos do judaísmo
foram-se erodindo: séculos de ignorância e separação mútua
estavam a chegar ao fim. A assimilação – através da migração,
do casamento e da diluição cultural – já ia bem avançada.
Em
retrospectiva, as consequências temporárias podem ser confusas. Na
Alemanha, muito judeus consideravam-se alemães – e objeto de
melindre por essa mesma razão. Na Europa Central, em especial no
triângulo urbano, não representativo, de Praga-Budapeste-Viena, uma
intelligentsia
judaica
secularizada – influente nas profissões liberais – estabeleceu a
base característica para a vida judaica pós-comunitária. Mas o
mundo de Kafka, Kraus e Zweig estava a fragmentar-se: como dependia
das circunstâncias únicas de um império liberal que se
desagregava, estava impotente perante a tempestade do
etnonacionalismo. Para os que procuravam as raízes culturais, pouco
oferecia além de arrependimento e nostalgia.”
Judt, Tony, O Chalet da Memória, Lisboa, Edições 70, 2011, pp. 209-210.
[Cemitério judeu, Praga]
Arthur Bensabat Benarus
[191-]
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