9 de julho de 2022

Judaísmo

    Se Hitler nunca tivesse acontecido, o judaísmo podia muito bem ter entrado em desintegração. Com a rutura do isolamento judaico durante a parte final do século XIX em grande parte da Europa, os limites religiosos, comunitários e ritualísticos do judaísmo foram-se erodindo: séculos de ignorância e separação mútua estavam a chegar ao fim. A assimilação – através da migração, do casamento e da diluição cultural – já ia bem avançada.
    Em retrospectiva, as consequências temporárias podem ser confusas. Na Alemanha, muito judeus consideravam-se alemães – e objeto de melindre por essa mesma razão. Na Europa Central, em especial no triângulo urbano, não representativo, de Praga-Budapeste-Viena, uma intelligentsia judaica secularizada – influente nas profissões liberais – estabeleceu a base característica para a vida judaica pós-comunitária. Mas o mundo de Kafka, Kraus e Zweig estava a fragmentar-se: como dependia das circunstâncias únicas de um império liberal que se desagregava, estava impotente perante a tempestade do etnonacionalismo. Para os que procuravam as raízes culturais, pouco oferecia além de arrependimento e nostalgia.”

Judt, Tony, O Chalet da Memória, Lisboa, Edições 70, 2011, pp. 209-210.

[Cemitério judeu, Praga]
Arthur Bensabat Benarus
[191-]

Sem comentários:

Enviar um comentário