31 de maio de 2022

Carnaval dos Caretos de Podence

"A Festa de Carnaval dos Caretos de Podence, é realizada pela comunidade de Podence, pertencente ao município de Macedo de Cavaleiros, distrito de Bragança. Estamos perante uma prática social relacionada com o fim do inverno e o início da primavera. Entre Domingo-Gordo e Terça-Feira de Carnaval, na aldeia mais colorida de Portugal, Podence.

No coração do Nordeste Transmontano, celebra-se na semana carnavalesca o tão aclamado Carnaval de Podence – Entrudo Chocalheiro, onde os Caretos de Podence (encenação pagã) dão cor com os seus trajes à aldeia e aos muitos turistas que por ali passam.

Este evento ritual tendo origem no chamado “tempo longo”, de organização da vida em função dos ritmos do ciclo agrário, reporta às festas de celebração do final do ciclo de inverno e início do ciclo produtivo da primavera. (...)

Os Caretos de Podence constituem uma marca diferenciadora do território de Trás os Montes, o evento Entrudo Chocalheiro Carnaval dos Caretos, constitui um polo atrativo a nível nacional e Internacional. A tradição perde-se no tempo, uma tradição que esteve em vias de desaparecer nos anos sessenta e setenta, devido à emigração e à guerra Colonial do passado século.

O Careto de Podence é conhecido pelo seu comportamento performativo, “as chocalhadas” de que são alvo principal as mulheres, um ato simbólico que remete para uma origem remota e uma possível ligação a antigos rituais agrários e de fertilidade." daqui


26 de maio de 2022

Nécessaire da imperatriz Josefina

Nécessaire de toilette de l’impératrice Joséphine
Félix Rémond, Vigneux, Pierre Leplain, Schey
1806

"L'intérieur du coffret et son contenu sont plus précieux encore: l'ensemble, subdivisé en nombreux compartiments superposés, dont certains à secrets, constitue un très complet nécessaire de toilette, de couture, de broderie et d'écriture; au centre, le portrait de Napoléon Ier, en miniature, est l'oeuvre de Vigneux, élève d'Isabey." daqui

25 de maio de 2022

24 letras do abecedário

    "Os preconceitos e os crimes buscam cerebros analphabetos, como os morcegos e os chacaes buscam os subterraneos ás escuras. Ha mais luz nas vinte e quatro lettras do abcedario, do que em todas as constellações do firmamento."

Junqueiro, Guerra, "Instrui!..." in "A Illustração: revista de Portugal e do Brazil", 6.º Ano, A. 1, vol. VI, nº 24 (20 de Dezembro de 1889), p. 375. daqui


O poeta Guerra Junqueiro
Arnaldo Garcez Rodrigues

24 de maio de 2022

Casamento místico de Santa Catarina

Le Mariage de S.te Catherine
ca. 1803-1806

"The mystic marriage of St Catherine, with the child Christ placing a ring on her finger, after Maratti"

21 de maio de 2022

Letrados do exército e da magistratura

A experiência de 1808 e a seguir da guerra mudaram Portugal. A fuga do rei para o Brasil e o colaboracionismo da Igreja, da nobreza e da magistratura enfraqueceram irremediavelmente o antigo regime. A ausência da maioria dos «grandes» na revolta de 1808 abalou para sempre o seu poder e o seu prestígio. Apesar da insignificância do papel da «burguesia» durante a crise e do triunfo ideológico «do trono e do altar», parte do pessoal das juntas e do exército de Beresford chegou a 1814 decidida a não voltar à paz podre de 1807. Nele se veio a recrutar a «classe dirigente» do «liberalismo» português.

Mas, mais do que isso, a revolta e a guerra acabaram com o isolamento e a imobilidade do país. Passaram por Portugal milhares de espanhóis, de ingleses, de franceses, que traziam consigo uma cultura exótica e provavam a possibilidade de uma vida diferente. E os sete anos de 1807 a 1814 mostraram que o que se dava por definitivo caía e morria com facilidade. Em 1814, a violência já não impressionava ninguém e ninguém ignorava que por ela (ou com ela) se fazia ou desfazia uma sociedade. O inimaginável de 1807 era agora um lugar-comum. E os portugueses, especialmente os portugueses letrados do exército e da magistratura, queriam uma recompensa pelos sacrifícios que tinham suportado e pela vitória que tinham ganho. Foi isto que o «antigo regime» nunca percebeu.”

Valente, Vasco Pulido, Ir prò Maneta. A Revolta contra os Franceses (1808), Lisboa, Alêtheia Editores, 2007, p. 108-109.


Lisboa protegendo os seus habitantes das invasões francesas
Domingos António Sequeira
1812
Museu de Lisboa

20 de maio de 2022

Snob

snob - word origin

"late 18th cent. (originally dialect in the sense ‘cobbler’): of unknown origin; early senses conveyed a notion of “lower status or rank”, later denoting a person trying to imitate those of higher social standing or wealth. Folk etymology connects the word with Latin sine nobilitate ‘without nobility’ but the first recorded sense has no connection with this." daqui

The Balbi Children
Anthony van Dyck
about 1625-7

19 de maio de 2022

A gente miúda

As posições exaltadas na sociedade já não implicavam a devoção à Coroa, a fidelidade à Igreja, a virtuosa detestação do jacobino. A nobreza colaborara com o invasor, o episcopado colaborara, o grande funcionalismo colaborara. Apenas o «povo» nunca se tinha rendido, e aprendera à sua custa que a traição às vezes morava, ou quase sempre morava, em altos lugares. O espectáculo do seu indesculpável servilismo para com o Francês desprestigiara os senhores. E, o que é mais importante, a gente miúda ousara levantar a mão contra eles sem ser imediatamente esmagada. Prendera-os, roubara-os, injuriara-os e, aqui e ali, até os matara. E se não fora exactamente louvada, não fora também, de maneira alguma, punida. Depois da experiência terrível da ocupação e do levantamento, as palavras não chegavam de toda a evidência para restaurar a ordem tradicional na sua integridade e vigor.”

Valente, Vasco Pulido, Ir prò Maneta. A Revolta contra os Franceses (1808), Lisboa, Alêtheia Editores, 2007, p. 91.

Mapa de Condeixa incendiada aquando das invasões francesas
Felix Lourenço
1801 - 1850
Museu Nacional Machado de Castro

"CONDEIXA/ Destruida e Incendiada, pello Francês ficando todos os Pallacios queimados, e a Igreja de Stª Christina =/ da freguesia, e só escapóu o Pallacio do Dezembargadór Manoel Pereira Ramos de Ser Incendiado./ tudo acontecido no Anno de 1811" daqui

18 de maio de 2022

A mão de Estaline

Hand taken from a statue of Stalin

"Pulled down on the evening of 23 October during the Hungarian Revolution of 1956, the Stalin statue in Budapest’s City Park was one of the main symbols of the system overthrown at that time. After being toppled, the statue was broken up by the angry crowd. Our exhibition displays the ‘almighty’ hand. (The statue was made by Sándor Mikus.)" daqui

17 de maio de 2022

O padre, o frade e o fidalgo

Quer dizer, se em França a nação se criara contra o «antigo regime» e, em Espanha, contra ele e o invasor, na crise portuguesa de 1807-1812 a nação surgiu em oposição ao francês (como era inevitável) mas sobretudo em oposição ao «afrancesado». Nestas condições, ficou desde o seu princípio identificada ao padre, ao frade e ao fidalgo, verdadeiros depositários de tudo o que ela possuía de singular (e, portanto, de sagrado) e últimos baluartes da sua defesa contra aqueles que de fora a procuravam vencer ou corromper, pelas armas ou pelas ideias. É inútil sublinhar a persistência desta visão na história futura do país. Em Portugal, o nacionalismo não teve como no resto da Europa um conteúdo laico e liberalizante (excepto nos breves episódios da Patuleia e da propaganda republicana entre 1890 e 1910). Pelo contrário, quase sempre não se distinguiu do ultramontanismo católico e das causas típicas da conservação.”

Valente, Vasco Pulido, Ir prò Maneta. A Revolta contra os Franceses (1808), Lisboa, Alêtheia Editores, 2007, pp. 49-50.

Sopa de Arroios

Domingos António Sequeira e Gregório Francisco de Queirós
1813


"Dom. Ant. de Sequeira Ac. Rom. inv. del. e abrio os cont. das figuras
Greg. Fran.co de Queiroz esculpio as figuras a Agoa Forte e a buril em 1813

"A S. A. R. O Principe Regente Nosso Senhor,
Augusto, Pio, Magnanimo, Pai da Patria,
D. O. C. 
Domingos Antonio de Sequeira, Luzitano, 
Primeiro Pintor da Camera e Corte de S. A. R; Mestre dos Ser.mos Snr.es  Principe, e Infantes, Academico de Merito na Inclyta Academia de S Lucas em Roma, e das principaes da Italia, Director da Aula do Desenho na Real Academia da Marinha da Cidade do Porto, esta Estampa, que copiou do natural Representa a distribuição do alimento, qse Repartia no Cruzeiro de Arroios aos infelizes emigrados qdesamparárão as suas terras assoladas pelo Exercito Francez na invasão de Outubro de 1810, e forão acolhidos, hospedados, e sustentados pelos moradores de Lisboa com o mais louvavel patriotismo, e humanidade."

16 de maio de 2022

Caveira, anjo e borboleta

Vanité
Jan van Hemessen
ca. 1535-1540
Palácio das Belas-Artes de Lille

"Un indice nous permet d’en apprendre plus sur le commanditaire : sur le rebord de la fenêtre, une pile de pièces d’or laisse penser que la personne qui a commandé cette œuvre était un marchand ou un banquier !" daqui

15 de maio de 2022

1808 e o clero

No caos político e civil da Primavera e Verão de 1808, raríssimas pessoas gozavam de um tão invejável poder, e certamente nenhum grupo social, a não ser o clero. O que se revelou decisivo, já que, em última análise, foi o clero que acabou por dar um conteúdo ideológico à luta que se tratava, impedindo que ela se concebesse apenas como uma luta pela Pátria, contra o estrangeiro e contra os senhores (magistrados, fidalgos, militares, chefes da Igreja) que com ele, em diversos graus, haviam pactuado; e transformando-a também numa guerra de religião em que o inimigo, francês ou português, surgia sobretudo como o inimigo de Deus, o jacobino, o anarquista. Ou seja, a participação dos frades no levantamento conservou-lhes a autoridade e permitiu-lhes desviá-lo para um sentido eminentemente conservador.”

Valente, Vasco Pulido, Ir prò Maneta. A Revolta contra os Franceses (1808), Lisboa, Alêtheia Editores, 2007, pp. 42-43.

Cirilo Volkmar Machado
Série das Invasões Francesas, d. 97p
entre 1807 e 1809?

"Profanações dos Templos.
Os abominaveis soldados de Napoleaõ, manchaõ sacriligamente os Templos de Deos com ex-ecraveis insultos desprezaõ as Santas Imagens partem-nas e as lanção no fogo e…
A Religião de vosso Pais, a mesma que todos professamos…será protejada e socorrida pella mesma vontade. Junot. Edital 1 de Fevereiro de 1808. Grande socorro, grande protecção. para a Religiaõ, lancarem as Imagens sagradas no fogo. Bella fraze."

13 de maio de 2022

Contra o invasor francês

    No entanto, por Portugal inteiro, os «grandes», invariavelmente tão cautelosos e dispostos a sofrer qualquer opressão, não hesitaram em dar o passo decisivo, formando em centenas de cidades, vilas e até aldeias juntas de governo que assumiram na sua região toda a autoridade civil e militar em nome do Príncipe ausente. O que os levou a tanta coragem não difere em substância do que antes os fizera conspirar ou os trouxera à cabeça dos «tumultos», ou seja, o medo do «povo» desencadeado. Agora, porém, não se tratou apenas de algumas personalidades mais lúcidas ou mais activas, como Rego ou Cabreira, Silveira ou Sepúlveda. Compreendendo que se jogava o seu destino, nobreza, clero e magistratura escolheram unanimemente o mal menor e viraram-se sem ambiguidade contra o invasor francês.” 

Valente, Vasco Pulido, Ir prò Maneta. A Revolta contra os Franceses (1808), Lisboa, Alêtheia Editores, 2007, p. 37.


Cirilo Volkmar Machado
Série das Invasões Francesas, d. 104p
entre 1807 e 1809?

"Comportamento dos Franceses
Dezonras, mortes, roubos, e quanto se pode immaginar de mais atroz perpetraraõ os malvados Napoleonicos em Beja, Leiria Evora, Caldas, e noutras muitas partes em Portugal.
Taes saõ as boas promessas Francesas. Apanhai esta bella colheita que o Céo vos manda... Junot Edital de 26 de Junho de 1808. O vosso estado hé o mesmo que o do resto da Europa. Junot Decreto 12 de Maio de 1808."

12 de maio de 2022

11 de maio de 2022

Colaboracionismo em 1808

     Quanto aos senhores com um cadastro de colaboracionismo dividiam-se em dois grupos. Os que se haviam limitado a fazer o necessário para conservar as suas cabeças, bens e lugares e que puderam convictamente fingir que não passavam de vítimas inocentes do tirano, com pleno direito a um lugar privilegiado na nova ordem de coisas. E aqueles cujo zelo em servir o «governo intruso» não permitia contestação. Estes últimos dividiam-se ainda  em duas categorias, consoante o lugar que ocupavam na hierarquia do Estado, da Igreja ou da sociedade (que, aliás, se confundiam e sobrepunham). Se se tratava de pessoas com posições exaltadas (bispos, generais, desembargadores, titulares) considerou-se que a sua queda encorajaria o «frenesim da canalha» e os comparsas menores protegeram-nos, apoiaram-nos e escolheram-nos (ao menos, pela forma) para presidir às instituições revolucionárias. Foi o caso de quase todos os bispos, mesmo os mais «afrancesados», como o do Porto e o do Algarve, de quase todos os generais governadores militares das províncias, de dezenas de fidalgos e de alguns magistrados. Se se tratava, porém, de criaturas sem prestígio, nem peso, ou se lembraram de fugir na boa altura, ou o «povo» de várias maneiras se encarregou delas, ou, quando se viram instaladas, as novas autoridades tentaram discretamente salvá-las do ódio geral.”

Valente, Vasco Pulido, Ir prò Maneta. A Revolta contra os Franceses (1808), Lisboa, Alêtheia Editores, 2007, p. 36.


Vista da Praça do Rocio, na qual se reprezenta a dezordem e terror dos Francezes no dia do Corpo de Deos no anno de 1808, os quaes tumultuozamente largaraõ as Armas e dezempararaõ a Artilheria pelo susto que o povo lhes cauzou e os boatos que corrião = já chegaraõ os Inglezes

10 de maio de 2022

Mandrágora

"A mandrágora é supostamente nascida do esperma de um enforcado."

Chevalier, Jean; Gheerbrant, Alain, Dicionário de símbolos, Rio de Janeiro, Editora José Olympio, 2001, pp. 586-587.

Ibn Butlan, Tacuinum sanitatis37r

9 de maio de 2022

Revolução em 1808

    O comportamento do «povo» não cessaria, de facto, de espantar os poderosos nesse ano confuso e terrível de 1808. Sempre que a iniciativa da revolta partiu dos «pequenos», ou que eles desempenharam um papel essencial nos acontecimentos, as muralhas de submissão e deferência que os separavam dos «grandes» depressa ruíram. Em parte nenhuma o «povo» agiu, como se esperava, com suave delicadeza e implícito respeito pelas diferenças sociais estabelecidas. Para ele, o levantamento nacional confundiu-se invariavelmente com uma «revolução», ou seja, com a liquidação brusca e violenta da ordem política vigente, sofressem os senhores o que sofressem. Não certamente por acaso, «revolução» é a palavra que todos os comentadores contemporâneos usam para descrever o que aconteceu.
    Desde o princípio que o «povo» se mostrou «excitável» e «tumultuário» e desinclinado a pôr limites de forma ou fundo à sua acção. Pelo país inteiro, a sua cólera explodiu livremente e se desencadeou ao mínimo obstáculo, provocação, suspeita ou desconfiança.” 

Valente, Vasco Pulido, Ir prò Maneta. A Revolta contra os Franceses (1808), Lisboa, Alêtheia Editores, 2007, pp. 17-18.

Junot protegendo a cidade de Lisboa
Domingos António de Sequeira
1808
Museu Nacional Soares dos Reis

7 de maio de 2022

O povo em 1808

     Quase invariavelmente, nos lugares de onde partiu a sublevação nacional contra o ocupante foi o «povo» que tomou a iniciativa. O «povo», isto é: pescadores, trabalhadores rurais, camponeses, oficiais mecânicos, e um ou outro comerciante pobre ou ínfimo empregado público. Mas no meio deles aparece o ocasional alferes, tenente ou capitão de ordenanças ou milícias, o ocasional religioso (secular ou regular) e até, em muito poucos casos, o ocasional magistrado e o raro senhor local, ornado ou não com o prestigioso título de bacharel. Nunca é destas personagens que vem o gesto decisivo de revolta. Acontece que, reconhecendo a «ebulição» do «povo», se arranjaram no último momento para se pôr ao seu lado e, se possível, à sua frente. Há, no entanto, excepções conhecidas.”

Valente, Vasco Pulido, Ir prò Maneta. A Revolta contra os Franceses (1808), Lisboa, Alêtheia Editores, 2007, p. 14.

Portrait de Napoléon Bonaparte
Nicolas-André Monsiau
1806

4 de maio de 2022

Tatuagens da Polinésia Francesa


"Tatuagens tradicionais dos moradores de Nuku Hiva de frente e de costas"
entre 1803 e 1807
"Somente homens abastados possuem tatuagens – mulheres e pescadores pobres não possuem"

Langsdorff, Georg Heinrich von, Bemerkungen auf einer Reise um die Welt in den Jahren 1803 bis 1807, vol. I, Frankfurt am Main, In Verlag bei Friedrich Wilmans, 1812. daqui

"Primeira viagem russa de circum-navegação do globo. Langsdorff parou no Brasil."

Nuku Hiva - ilha na Polinésia Francesa