“O
comportamento do «povo» não cessaria, de facto, de espantar os
poderosos nesse ano confuso e terrível de 1808. Sempre que a
iniciativa da revolta partiu dos «pequenos», ou que eles
desempenharam um papel essencial nos acontecimentos, as muralhas de
submissão e deferência que os separavam dos «grandes» depressa
ruíram. Em parte nenhuma o «povo» agiu, como se esperava, com
suave delicadeza e implícito respeito pelas diferenças sociais
estabelecidas. Para ele, o levantamento nacional confundiu-se
invariavelmente com uma «revolução», ou seja, com a liquidação
brusca e violenta da ordem política vigente, sofressem os senhores o
que sofressem. Não certamente por acaso, «revolução» é a
palavra que todos os comentadores contemporâneos usam para descrever
o que aconteceu.
Desde
o princípio que o «povo» se mostrou «excitável» e «tumultuário»
e desinclinado a pôr limites de forma ou fundo à sua acção. Pelo
país inteiro, a sua cólera explodiu livremente e se desencadeou ao
mínimo obstáculo, provocação, suspeita ou desconfiança.”
Valente, Vasco Pulido, Ir prò Maneta. A Revolta contra os Franceses (1808), Lisboa, Alêtheia Editores, 2007, pp. 17-18.
Junot protegendo a cidade de Lisboa
Domingos António de Sequeira
1808
Museu Nacional Soares dos Reis
Sem comentários:
Enviar um comentário