9 de maio de 2022

Revolução em 1808

    O comportamento do «povo» não cessaria, de facto, de espantar os poderosos nesse ano confuso e terrível de 1808. Sempre que a iniciativa da revolta partiu dos «pequenos», ou que eles desempenharam um papel essencial nos acontecimentos, as muralhas de submissão e deferência que os separavam dos «grandes» depressa ruíram. Em parte nenhuma o «povo» agiu, como se esperava, com suave delicadeza e implícito respeito pelas diferenças sociais estabelecidas. Para ele, o levantamento nacional confundiu-se invariavelmente com uma «revolução», ou seja, com a liquidação brusca e violenta da ordem política vigente, sofressem os senhores o que sofressem. Não certamente por acaso, «revolução» é a palavra que todos os comentadores contemporâneos usam para descrever o que aconteceu.
    Desde o princípio que o «povo» se mostrou «excitável» e «tumultuário» e desinclinado a pôr limites de forma ou fundo à sua acção. Pelo país inteiro, a sua cólera explodiu livremente e se desencadeou ao mínimo obstáculo, provocação, suspeita ou desconfiança.” 

Valente, Vasco Pulido, Ir prò Maneta. A Revolta contra os Franceses (1808), Lisboa, Alêtheia Editores, 2007, pp. 17-18.

Junot protegendo a cidade de Lisboa
Domingos António de Sequeira
1808
Museu Nacional Soares dos Reis

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