“As posições exaltadas na sociedade já não implicavam a devoção à Coroa, a fidelidade à Igreja, a virtuosa detestação do jacobino. A nobreza colaborara com o invasor, o episcopado colaborara, o grande funcionalismo colaborara. Apenas o «povo» nunca se tinha rendido, e aprendera à sua custa que a traição às vezes morava, ou quase sempre morava, em altos lugares. O espectáculo do seu indesculpável servilismo para com o Francês desprestigiara os senhores. E, o que é mais importante, a gente miúda ousara levantar a mão contra eles sem ser imediatamente esmagada. Prendera-os, roubara-os, injuriara-os e, aqui e ali, até os matara. E se não fora exactamente louvada, não fora também, de maneira alguma, punida. Depois da experiência terrível da ocupação e do levantamento, as palavras não chegavam de toda a evidência para restaurar a ordem tradicional na sua integridade e vigor.”
Valente, Vasco Pulido, Ir prò Maneta. A Revolta contra os Franceses (1808), Lisboa, Alêtheia Editores, 2007, p. 91.
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