“A
experiência de 1808 e a seguir da guerra mudaram Portugal. A fuga do
rei para o Brasil e o colaboracionismo da Igreja, da nobreza e da
magistratura enfraqueceram irremediavelmente o antigo regime. A
ausência da maioria dos «grandes» na revolta de 1808 abalou para
sempre o seu poder e o seu prestígio. Apesar da insignificância do
papel da «burguesia» durante a crise e do triunfo ideológico «do
trono e do altar», parte do pessoal das juntas e do exército de
Beresford chegou a 1814 decidida a não voltar à paz podre de 1807.
Nele se veio a recrutar a «classe dirigente» do «liberalismo»
português.
Mas,
mais do que isso, a revolta e a guerra acabaram com o isolamento e a
imobilidade do país. Passaram por Portugal milhares de espanhóis,
de ingleses, de franceses, que traziam consigo uma cultura exótica e
provavam a possibilidade de uma vida diferente. E os sete anos de
1807 a 1814 mostraram que o que se dava por definitivo caía
e morria com facilidade. Em 1814, a violência já não impressionava
ninguém e ninguém ignorava que por ela (ou com ela) se fazia ou
desfazia uma sociedade. O inimaginável de 1807 era agora um
lugar-comum. E os portugueses, especialmente os portugueses letrados
do exército e da magistratura, queriam uma recompensa
pelos sacrifícios que tinham suportado e pela vitória que tinham
ganho. Foi isto que o «antigo regime» nunca percebeu.”
Valente, Vasco Pulido, Ir prò Maneta. A Revolta contra os Franceses (1808), Lisboa, Alêtheia Editores, 2007, p. 108-109.
Lisboa protegendo os seus habitantes das invasões francesas
Domingos António Sequeira
1812
Museu de Lisboa
Sem comentários:
Enviar um comentário