“Quanto aos senhores com um cadastro de colaboracionismo dividiam-se em dois grupos. Os que se haviam limitado a fazer o necessário para conservar as suas cabeças, bens e lugares e que puderam convictamente fingir que não passavam de vítimas inocentes do tirano, com pleno direito a um lugar privilegiado na nova ordem de coisas. E aqueles cujo zelo em servir o «governo intruso» não permitia contestação. Estes últimos dividiam-se ainda em duas categorias, consoante o lugar que ocupavam na hierarquia do Estado, da Igreja ou da sociedade (que, aliás, se confundiam e sobrepunham). Se se tratava de pessoas com posições exaltadas (bispos, generais, desembargadores, titulares) considerou-se que a sua queda encorajaria o «frenesim da canalha» e os comparsas menores protegeram-nos, apoiaram-nos e escolheram-nos (ao menos, pela forma) para presidir às instituições revolucionárias. Foi o caso de quase todos os bispos, mesmo os mais «afrancesados», como o do Porto e o do Algarve, de quase todos os generais governadores militares das províncias, de dezenas de fidalgos e de alguns magistrados. Se se tratava, porém, de criaturas sem prestígio, nem peso, ou se lembraram de fugir na boa altura, ou o «povo» de várias maneiras se encarregou delas, ou, quando se viram instaladas, as novas autoridades tentaram discretamente salvá-las do ódio geral.”
Valente, Vasco Pulido, Ir prò Maneta. A Revolta contra os Franceses (1808), Lisboa, Alêtheia Editores, 2007, p. 36.
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