31 de janeiro de 2022

Josefina num relógio

Relógio
Antoine André Ravrio
1807–1810

"This clock is said to represent Empress Josephine seated at the newly fashionable piano at her recently decorated residence, Malmaison. Her influence on her son, Eugène de Beauharnais, in the decorative styles he favored seems clear from looking at this clock and the surtout de table." daqui

30 de janeiro de 2022

Editar livros

Ser editor, editar livros, foi outrora uma tarefa carregada de aura e distinção. Os livros eram o meio fundamental de socialização da cultura, e aquilo que a partir do Iluminismo se definiu como «espaço público» correspondia em grande medida a um espaço público literário, isto é, moldado pelos livros e pela leitura. Muita coisa mudou, neste plano, sobretudo a partir do momento em que os livros ─ e a literatura ─ perderam uma boa parte do seu poder e a sua esfera de irradiação enfraqueceu. Não é que a produção editorial de livros impressos tenha diminuído. Muito pelo contrário: os balanços e diagnósticos periódicos da actividade nesta área, conformada em grande medida aos verdadeiros critérios industriais e comerciais da mercadoria, apontam para uma doença de sinal contrário, para o excesso e não para a falta. A obesidade é o aspecto mais marcante desta indústria, que, no fundo, nunca prescindiu de afirmar discretamente que não é como outra qualquer.”

Guerreiro, António, Uma editora lenta e com marca” in Oliveira, Luís (org.), Antígona 40 Anos + 1, Lisboa, Antígona, 2020, p. 119.


Eça de Queirós e os filhos

28 de janeiro de 2022

Na eira

Na eira
Tomás da Anunciação
1861
Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado

"Esta paisagem rural, de 1861, realizada num período de grande convivência com Cristino da Silva, concretiza a opção sugerida por Garrett, ainda em 44, no sentido do registo dos costumes tradicionais do país. A importância de observação do povo e dos seus quotidianos inscreve-se nas intenções desta geração, que pretende captar as especificidades locais e o seu carácter genuíno." daqui

27 de janeiro de 2022

Napoleão como Marte

Napoleon as Mars the Peacekeeper
Antonio Canova
1806

"It was unveiled at the Musée de Napoleon (now the Louvre), however Napoleon did not like the statue, it was ‘too athletic’ he declared and the statue was never put on public display.
(...)
After much negotiation the British purchased the statue and the Prince Regent (later George IV) presented it to Wellington in 1816."

26 de janeiro de 2022

Caçada miguelista

Caçada de D. Miguel em Vendas Novas
Joaquim Rodrigues Braga
1824
Palácio Nacional de Mafra

"Caçada que fes S.A.R. o Serenissimo Senhor Infante D. Miguel no Citio de vendas Novas, no dia 3 de Janeiro de 1824"
"Joaquim Rodrigues Braga inventou e pintou 8 de Fevereiro 1824"

25 de janeiro de 2022

Paris

Antes da Guerra, quando se pensava na Europa, pensava-se em Paris como a sua capital. Fora da Alemanha, inúmeras pessoas acreditavam que a batalha do Marne tinha salvado algo muito mais valioso do que as rendas francesa ou as acções ingleses. Em primeiro lugar, Paris é a única grande cidade do mundo realmente bela, de dia ou de noite, em qualquer estação do ano. Lembre-se também a enorme quantidade de pensamento humano que Paris produziu, não apenas à escala da França, mas à escala europeia ou mesmo mundial.
    Há uma estreita relação entre as duas coisas: a beleza da cidade e a obra dos eruditos, dos filósofos, dos cientistas escritores, actores e actrizes que passaram os seus melhores anos naquela que é a rainha de todas as cidades. De facto, se quisermos imaginar uma Europa antes da guerra, essa será uma Europa quase exclusivamente talhada pelas ideias e pelos actos de homens e mulheres que foram influenciados, de uma ou de outra forma, pela França ou pela sua história. Sim, até mesmo a história de Paris constitui uma parte do conjunto da história dessa Europa sobre a qual ninguém escreveu um livro. A Grande Revolução, Napoleão, 1848, a Comuna, o caso Dreyfus, as batalhas em que tantos milhares de homens e mulheres sacrificaram apaixonadamente as suars vidas: este foi o solo onde as ideias, o pensamento e a imaginação do ser humano criaram raízes e foram fertilizados.”

Fox, Ralph, Portugal Now, Lisboa, Tinta-da-China, 2006, pp. 19-20.


Les bouquinistes du quai de la Tournelle

24 de janeiro de 2022

Caçada miguelista

 Caçada do Infante D. Miguel na Tapada de Mafra
Joaquim Rodrigues Braga
1823
Palácio Nacional de Mafra

"Caçada que fes S.A.R. o Serenissimo Senhor Infante D. Miguel na Tapada de Mafra no dia 30 de Novembro de 1823"
"Pintado e reverentemente oferecido a S.A.R. o Serenissimo Infante D. Miguel pelo seu mais humilde e sempre leal criado Joaquim Rodrigues Braga"

23 de janeiro de 2022

Divinos prazeres no Inverno

Estamos não na Primavera, nem no Verão, nem no Outono, mas no pino do Inverno. Este é um ponto muito importante na ciência da felicidade. E surpreende-me bastante ver pessoas que não se importam com isso e que até se felicitam por o Inverno estar a acabar ou, se ele está a decorrer, por ser muito rigoroso. Eu, pelo contrário, todos os anos rezo a pedir ao céu o máximo de neve, granizo, gelo e tempestades que ele possa dar-nos. Todos, é claro, sabem dos divinos prazeres que nos esperam no Inverno ao canto da lareira; as velas que se acendem às quatro horas, o calor da alcatifa, o chá, a formosa pessoa que o faz, os reposteiros corridos, as pregas das cortinas a roçar o chão, enquanto o vento e a chuva rugem lá fora

E parecem bater às portas e janelas,

Como se terra e céu um só quisessem ser;
Mas não podem entrar; não encontram por onde,
Nada poderá invadir o nosso doce abrigo.

(Castle of Indolence)”


Quincey, Thomas de, Confissões de um opiómano inglês, s. l., Alfabeto, 2011, pp. 131-132.

"Designed on stone by Percy Cruikshank"
ca. 1850s

22 de janeiro de 2022

Pobre e cosmopolita

    “Se alguma vez considerar a hipótese do exílio, voluntário ou involuntário, terá à escolha muitos sítios piores do que Lisboa.
  A cidade é limpa e pitoresca, banhada por uma luz dourada, suave e encantadora, que apaziguará a tristeza do exílio; também não há pobreza à vista, o que nos poupa a remorsos quando nos sentamos à mesa num dos três hotéis confortáveis de Lisboa.
    É certo que esta ausência de pobreza é um mero acidente arquitectónico, pois os pobres, como em qualquer outro cidade, são a maioria da população, mas encontram-se convenientemente afastados e arrumados nas ruas íngremes e estreitas que as largas avenidas centrais não cruzam.
    Apesar de tudo, até mesmo a pobreza parece suportável sob a doce luz de Lisboa, e como a moeda nacional está alegremente desvalorizada, a vida parece barata ‒ mesmo que não o pareça aos nativos.
    O terceiro factor indispensável ao ambiente do exílio também aqui se encontra ‒ uma atmosfera cosmopolita.
    É verdade que a maioria dos habitantes são obstinadamente portugueses, mas os exilados são todos espanhóis, os exportadores de vinho são ingleses, os comboios são alemães, o gás e a electricidade são franco-belgas; os eléctricos, os telefones, os marcos de correio e os capacetes dos polícias são também ingleses; por outro lado, a política do governo é franco-alemã.”

Fox, Ralph, Portugal Now, Lisboa, Tinta-da-China, 2006, pp. 63-64.

Feira da Ladra
José Artur Leitão Bárcia
[entre 1890 e 1945]

21 de janeiro de 2022

A parte mais divina

Em resumo, e usando poucas palavras, um homem embriagado ou a caminho da embriaguez está e sabe que está numa condição que apela para a supremacia da parte humana, por vezes da parte animal, da sua natureza. Mas o opiómano (refiro-me àquele que não sofre de qualquer moléstia ou de outros efeitos remotos do ópio) sente que a parte mais divina de sua natureza é a que se impõe; ou seja, os seus sentimentos morais conhecem uma serenidade sem névoa; e, acima de tudo, brilha com a luz viva da inteligência majestosa.”

Quincey, Thomas de, Confissões de um opiómano inglês, s. l., Alfabeto, 2011, pp. 94-95.


Opium box (with Chinese characters) made of horn
séc. XIX
Tailândia
"The collector of this object was Carl Bock, a Norwegian naturalist who visited Siam and areas to the north of it from June or July 1881 until August 1882."

20 de janeiro de 2022

Trabalho infantil em Lisboa

"Em Lisboa, as criancinhas são realmente importantes, pois é frequente que sejam elas a única fonte de sustento das suas famílias. óptimas leis sobre a utilização de crianças no trabalho excelentes, de facto, mas que não abrangem as indústrias onde o trabalho infantil é mais explorado. Destas, as principais são as indústrias da hotelaria e da restauração. Rapazinhos de uniforme, lidos e cansados, são vistos a abrir e fechar as portas dos elevadores nos hotéis de Lisboa até à meia-noite, começando a trabalhar de manhã cedo.
    Os clubes nocturnos de Lisboa oferecem um emocionante início de vida aos rapazinhos de Lisboa. (…) Os portugueses têm um conceito de cortesia que os faz considerar como incorrecto o comportamento de uma mulher, mesmo uma prostituta, que aborda diretamente um homem; e, assim, dezenas de rapazinhos nos clubes nocturnos a levar mensagens escritas das raparigas para os seus clientes. Começam a trabalhar por volta da meia-noite e terminam às cinco ou seis da manhã.
    Quando a Comissão formada pela Liga das Nações para investigar o tráfico de escravatura branca visitou Lisboa, descobriu que, do total de prostitutas registadas, havia 1720 cerca de quarenta por cento ‒ que tinham menos de vinte anos. Eis o que uma madame disse à Comissão: «Portugal é o único país que eu conheço onde uma rapariga de catorze anos pode entrar para uma casa». Quando lhe perguntaram se «os pais não levantam objecções», ela respondeu: «Eles é que as trazem para aqui. As raparigas mandam todo o seu dinheiro para casa.»
    Isto foi em 1924. Mas se a Comissão visitasse Lisboa novamente, ia descobrir que as coisas não mudaram muito, apenas se tornaram menos públicas. Os rapazes nos cabarets e as raparigas no[s] bordéis ainda continuam a «mandar todo o seu dinheiro para casa».”

Fox, Ralph, Portugal Now, Lisboa, Tinta-da-China, 2006, pp. 107-109.


Ardinas, vendedores de jornais
Paulo Guedes
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