“Se alguma vez considerar a hipótese do exílio, voluntário ou involuntário, terá à escolha muitos sítios piores do que Lisboa.
A cidade é limpa e pitoresca, banhada por uma luz dourada, suave e encantadora, que apaziguará a tristeza do exílio; também não há pobreza à vista, o que nos poupa a remorsos quando nos sentamos à mesa num dos três hotéis confortáveis de Lisboa.
É certo que esta ausência de pobreza é um mero acidente arquitectónico, pois os pobres, como em qualquer outro cidade, são a maioria da população, mas encontram-se convenientemente afastados e arrumados nas ruas íngremes e estreitas que as largas avenidas centrais não cruzam.
Apesar de tudo, até mesmo a pobreza parece suportável sob a doce luz de Lisboa, e como a moeda nacional está alegremente desvalorizada, a vida parece barata ‒ mesmo que não o pareça aos nativos.
O terceiro factor indispensável ao ambiente do exílio também aqui se encontra ‒ uma atmosfera cosmopolita.
É verdade que a maioria dos habitantes são obstinadamente portugueses, mas os exilados são todos espanhóis, os exportadores de vinho são ingleses, os comboios são alemães, o gás e a electricidade são franco-belgas; os eléctricos, os telefones, os marcos de correio e os capacetes dos polícias são também ingleses; por outro lado, a política do governo é franco-alemã.”
Fox, Ralph, Portugal Now, Lisboa, Tinta-da-China, 2006, pp. 63-64.
Feira da Ladra
José Artur Leitão Bárcia
[entre 1890 e 1945]
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