23 de janeiro de 2022

Divinos prazeres no Inverno

Estamos não na Primavera, nem no Verão, nem no Outono, mas no pino do Inverno. Este é um ponto muito importante na ciência da felicidade. E surpreende-me bastante ver pessoas que não se importam com isso e que até se felicitam por o Inverno estar a acabar ou, se ele está a decorrer, por ser muito rigoroso. Eu, pelo contrário, todos os anos rezo a pedir ao céu o máximo de neve, granizo, gelo e tempestades que ele possa dar-nos. Todos, é claro, sabem dos divinos prazeres que nos esperam no Inverno ao canto da lareira; as velas que se acendem às quatro horas, o calor da alcatifa, o chá, a formosa pessoa que o faz, os reposteiros corridos, as pregas das cortinas a roçar o chão, enquanto o vento e a chuva rugem lá fora

E parecem bater às portas e janelas,

Como se terra e céu um só quisessem ser;
Mas não podem entrar; não encontram por onde,
Nada poderá invadir o nosso doce abrigo.

(Castle of Indolence)”


Quincey, Thomas de, Confissões de um opiómano inglês, s. l., Alfabeto, 2011, pp. 131-132.

"Designed on stone by Percy Cruikshank"
ca. 1850s

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