“Estamos
não na Primavera, nem no Verão, nem no Outono, mas no pino do
Inverno. Este é um ponto muito importante na ciência da felicidade.
E surpreende-me bastante ver pessoas que não se importam com isso e
que até se felicitam por o Inverno estar a acabar ou, se ele está a
decorrer, por ser muito rigoroso. Eu, pelo contrário, todos os anos
rezo a pedir ao céu o máximo de neve, granizo, gelo e tempestades
que ele possa dar-nos. Todos, é claro, sabem dos divinos prazeres
que nos esperam no Inverno ao canto da lareira; as velas que se
acendem às quatro horas, o calor da alcatifa, o chá, a formosa
pessoa que o faz, os reposteiros corridos, as pregas das cortinas a
roçar o chão, enquanto o vento e a chuva rugem lá fora
E parecem bater às portas e janelas,
Como
se terra e céu um só quisessem ser;
Mas
não podem entrar; não encontram por onde,
Nada
poderá invadir o nosso doce abrigo.
(Castle of Indolence)”
Quincey, Thomas de, Confissões de um opiómano inglês, s. l., Alfabeto, 2011, pp. 131-132.
"Designed on stone by Percy Cruikshank"
ca. 1850s
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