20 de janeiro de 2022

Trabalho infantil em Lisboa

"Em Lisboa, as criancinhas são realmente importantes, pois é frequente que sejam elas a única fonte de sustento das suas famílias. óptimas leis sobre a utilização de crianças no trabalho excelentes, de facto, mas que não abrangem as indústrias onde o trabalho infantil é mais explorado. Destas, as principais são as indústrias da hotelaria e da restauração. Rapazinhos de uniforme, lidos e cansados, são vistos a abrir e fechar as portas dos elevadores nos hotéis de Lisboa até à meia-noite, começando a trabalhar de manhã cedo.
    Os clubes nocturnos de Lisboa oferecem um emocionante início de vida aos rapazinhos de Lisboa. (…) Os portugueses têm um conceito de cortesia que os faz considerar como incorrecto o comportamento de uma mulher, mesmo uma prostituta, que aborda diretamente um homem; e, assim, dezenas de rapazinhos nos clubes nocturnos a levar mensagens escritas das raparigas para os seus clientes. Começam a trabalhar por volta da meia-noite e terminam às cinco ou seis da manhã.
    Quando a Comissão formada pela Liga das Nações para investigar o tráfico de escravatura branca visitou Lisboa, descobriu que, do total de prostitutas registadas, havia 1720 cerca de quarenta por cento ‒ que tinham menos de vinte anos. Eis o que uma madame disse à Comissão: «Portugal é o único país que eu conheço onde uma rapariga de catorze anos pode entrar para uma casa». Quando lhe perguntaram se «os pais não levantam objecções», ela respondeu: «Eles é que as trazem para aqui. As raparigas mandam todo o seu dinheiro para casa.»
    Isto foi em 1924. Mas se a Comissão visitasse Lisboa novamente, ia descobrir que as coisas não mudaram muito, apenas se tornaram menos públicas. Os rapazes nos cabarets e as raparigas no[s] bordéis ainda continuam a «mandar todo o seu dinheiro para casa».”

Fox, Ralph, Portugal Now, Lisboa, Tinta-da-China, 2006, pp. 107-109.


Ardinas, vendedores de jornais
Paulo Guedes
19??

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