“Para
que serve um livro e para que serve a leitura de um livro? Um livro
que serve tira-nos dos compartimentos da nossa cabeça, da jaula do
eu, do ponto cego da nossa rotina, refaz o real segundo coordenadas
inesperadas, informações desconhecidas, dilemas impensados. Talvez
seja essa a sua função principal: imaginar o impensado e o
insentido, imaginá-los em segundo grau enquanto criação de
potencialidade, quer dizer, como pensamento pensável e sentimento
sentível por uma nova ordem de linguagem à qual posso aceder
exteriorizando-me por instantes nessa espiral de palavras. O livro
que serve é a actualização radical dessa potencialidade para quem
lê, para quem escreve, para quem edita. É um operador material de
inteligência e sensibilidade, um instrumento de crítica da ordem do
mundo no interior do sujeito, um espaço de ser que se abre no
papel.”
Portela, Manuel, “Observador-participante de um catálogo-mundo: a Antígona em 2019” in Oliveira, Luís (org.), Antígona 40 Anos + 1, Lisboa, Antígona, 2020, p. 31.
A Youthful Saint Reading
Girolamo da Santacroce
ca. 1512-25
National Gallery
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