“{
O
Bispo de Beja
}
Excepção
única à regra de a & etc não fazer reedições.
Razão:
dado o facto de o folheto original, colecção Contramargem, ter sido
apreendido pelas polícias Judiciária e de Segurança Pública à
ordem do Ministério Público, seguido de processo instaurado ao
editor por crime de abuso de liberdade de imprensa (isto em 1980,
seis anos volvidos sobre a liberdade instaurada a 25 de Abril),
decide o editor, em pleno decurso do processo, voltar ao objecto do
crime ㅡ
desta
vez com caricatura de Francisco Valença, versando o polémico bispo
de Beja, na capinha da reedição. Processo arquivado sem água-vai
ao editor, regados a gasolina e sujeitos a auto-da-fé no pátio do
Tribunal da Boa Hora os exemplares «apreendidos», não sofreu a
reedição qualquer medida persecutória. Tudo bons rapazes na
justiça portuguesa!”
Domingos, Paulo da Costa (coord.), & etc, uma editora no subterrâneo, Lisboa, Livraria Letra livre, 2013, p. 49.
Entrevista a Vitor Silva Tavares (Diário de Lisboa, 21 de Julho de 1980)
[DL]
E então uma denúncia, para mais vaga e assente apenas num critério
moralista, basta para pôr a funcionar a máquina da Justiça?
[VST]
Basta. A AD está no Poder. A ignorância, a estupidez, o
provincianismo descabelado, a sanha inquisitorial, a repressão
ignara, a brotoeja denunciatória, o primarismo moralizante florescem
em terreno propício.
Em
princípio, uma atitude destas, num momento destes, só pode causar
engulhos, pela vesguise demonstrada, à hierarquia religiosa e ao
poder civil. Estamos em período de caça ao voto (o lobo disfarçado
de carneiro…), nos Brasis o Papa, pressionado pelos bispos
sensíveis à miséria social e à tirania da oligarquia
político-financeira, propõe mais moderação
nas
reacionárias seculares tradições ─ o que guarda seus ecos,
distantes, hélas!,
na recente lusa carta episcopal. Mas a brandura dos costumes, o
desvario patológico, a febril vindicta praticista de uma direita
ressabiada pelo 25 de Abril do Povo-MFA reinstalam o clima propício
à defesa da Pátria, dos bons costumes, da sã moralidade, das
virtudes da raça ─ breve, à pistola contra a cultura, sob o álibi
«legalista» e «democrático», «humanista» e «ecuménico»
propagandeado pelo Executivo vigente.” daqui
Placa de cerâmica com as armas de D. Jorge de Almeida, Bispo de Coimbra entre 1481 e 1543
1503
Museu Nacional Machado de Castro
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