17 de fevereiro de 2022

O Bispo de Beja

{ O Bispo de Beja
Excepção única à regra de a & etc não fazer reedições.
Razão: dado o facto de o folheto original, colecção Contramargem, ter sido apreendido pelas polícias Judiciária e de Segurança Pública à ordem do Ministério Público, seguido de processo instaurado ao editor por crime de abuso de liberdade de imprensa (isto em 1980, seis anos volvidos sobre a liberdade instaurada a 25 de Abril), decide o editor, em pleno decurso do processo, voltar ao objecto do crime desta vez com caricatura de Francisco Valença, versando o polémico bispo de Beja, na capinha da reedição. Processo arquivado sem água-vai ao editor, regados a gasolina e sujeitos a auto-da-fé no pátio do Tribunal da Boa Hora os exemplares «apreendidos», não sofreu a reedição qualquer medida persecutória. Tudo bons rapazes na justiça portuguesa!”

Domingos, Paulo da Costa (coord.), & etc, uma editora no subterrâneo, Lisboa, Livraria Letra livre, 2013, p. 49.


Entrevista a Vitor Silva Tavares (Diário de Lisboa, 21 de Julho de 1980)

[DL] E então uma denúncia, para mais vaga e assente apenas num critério moralista, basta para pôr a funcionar a máquina da Justiça?
[VST] Basta. A AD está no Poder. A ignorância, a estupidez, o provincianismo descabelado, a sanha inquisitorial, a repressão ignara, a brotoeja denunciatória, o primarismo moralizante florescem em terreno propício.
Em princípio, uma atitude destas, num momento destes, só pode causar engulhos, pela vesguise demonstrada, à hierarquia religiosa e ao poder civil. Estamos em período de caça ao voto (o lobo disfarçado de carneiro…), nos Brasis o Papa, pressionado pelos bispos sensíveis à miséria social e à tirania da oligarquia político-financeira, propõe mais moderação nas reacionárias seculares tradições ─ o que guarda seus ecos, distantes, hélas!, na recente lusa carta episcopal. Mas a brandura dos costumes, o desvario patológico, a febril vindicta praticista de uma direita ressabiada pelo 25 de Abril do Povo-MFA reinstalam o clima propício à defesa da Pátria, dos bons costumes, da sã moralidade, das virtudes da raça ─ breve, à pistola contra a cultura, sob o álibi «legalista» e «democrático», «humanista» e «ecuménico» propagandeado pelo Executivo vigente.” daqui


Placa de cerâmica com as armas de D. Jorge de Almeida, Bispo de Coimbra entre 1481 e 1543
1503
Museu Nacional Machado de Castro

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