14 de fevereiro de 2022

Publicar livros

    Publicar livros nunca foi tarefa fácil e, no mundo espectacular das mercadorias dos dias de hoje, é uma actividade muito mais incerta. Vivemos na era do Big Mac, dos best-sellers, promovidos por jornais e revistas monolíticos que se reclamam representantes do actual mundo cultural, e os seus valores predominam num mundo governado pelo grande capital, tanto na edição como na distribuição. Os livros que marcaram as várias lutas anticapitalistas do século passado e a sua história ainda são por vezes publicados por editoras universitárias, se contarem com a promoção de cursos e programas académicos. Mas todos os outros livros ditos clássicos são esquecidos ou ficam mesmo por publicar. São livros que vendem muito pouco ou quase nada, e que, por isso, são publicados apenas por pequenas editoras em tiragens de poucas centenas de exemplares. Para uma editora de esquerda, e num mundo que se deslocou decididamente para a direita (até quando, no entanto?), é muito difícil escolher livros que têm valor no presente, uma mensagem que talvez mais ninguém publique, uma visão mais genuína e diferente da história, e livros que talvez a própria história tenha esquecido.”

Mailer, Phil, Os 40 anos da Antígona vistos de Dublin, Irlanda” in Oliveira, Luís (org.), Antígona 40 Anos + 1, Lisboa, Antígona, 2020, pp. 47-48.


Vista interior de la Biblioteca del Escorial
J. Laurent
1867

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