“No
que aos livros diz respeito, esta submissão vazia tem o mais
perfeito complemento nas inúmeras defesas da leitura em abstracto
recorrentemente emitidas pela «indústria cultural» do século XXI.
O potencial emancipatório da capacidade de leitura é inegável, mas
«Ler», assim mesmo em abstracto, ler não importa o quê, soa mais
a uma ordem ou um comando do que a qualquer desafio ou convite à
reflexão. A mesma forma vazia encontra-se nos textos encomendados
aos habituais intelectuais de serviço em defesa do «Livro» em
geral como objecto especial ou mágico. Estes elogios pseudopoéticos
ao livro em abstracto são a publicidade da forma vazia da «indústria
cultural», indiferente a qualquer conteúdo desde que este seja bom
para o negócio.”
Lamas, Bruno, “Enquanto existir dinheiro…” in Oliveira, Luís (org.), Antígona 40 Anos + 1, Lisboa, Antígona, 2020, p. 104.
The Painter's Father, Louis-Auguste Cézanne
Paul Cézanne
ca. 1865
National Gallery
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