12 de fevereiro de 2022

Ler o Livro

     No que aos livros diz respeito, esta submissão vazia tem o mais perfeito complemento nas inúmeras defesas da leitura em abstracto recorrentemente emitidas pela «indústria cultural» do século XXI. O potencial emancipatório da capacidade de leitura é inegável, mas «Ler», assim mesmo em abstracto, ler não importa o quê, soa mais a uma ordem ou um comando do que a qualquer desafio ou convite à reflexão. A mesma forma vazia encontra-se nos textos encomendados aos habituais intelectuais de serviço em defesa do «Livro» em geral como objecto especial ou mágico. Estes elogios pseudopoéticos ao livro em abstracto são a publicidade da forma vazia da «indústria cultural», indiferente a qualquer conteúdo desde que este seja bom para o negócio.”

Lamas, Bruno, Enquanto existir dinheiro…” in Oliveira, Luís (org.), Antígona 40 Anos + 1, Lisboa, Antígona, 2020, p. 104.

The Painter's Father, Louis-Auguste Cézanne
Paul Cézanne
ca. 1865
National Gallery

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