“Com
o surgimento da imprensa moderna, o livro tornou-se o primeiro
objecto cultural de reprodução em série. O facto de as técnicas
modernas de reprodução terem atingido primeiro o livro religioso e
aí alcançado um amplo sucesso «comercial» mostra bem que o livro,
enquanto objecto reprodutível, estava também no centro da longa
transição histórica do velho fetichismo religioso pré-moderno
para o novo fetichismo da mercadoria, do dinheiro e do capital da
modernidade. Através dessa reprodução técnica, o livro enquanto
artefacto cedo perdeu a individualidade, a diferença e a experiência
«autêntica» inerentes aos produtos das outras artes (pintura,
escultura, música, etc.). Tal como as moedas são cunhadas, os
livros são reproduzidos. Assim, analogamente à moeda, cada livro é
também um mero exemplar, uma cópia de um original na verdade
inexistente, bem ao jeito da forma social de diferenciação da
mercadoria. Quando o dinheiro e o livro se encontraram nasceu a
edição mercantil moderna.”
Lamas, Bruno, “Enquanto existir dinheiro…” in Oliveira, Luís (org.), Antígona 40 Anos + 1, Lisboa, Antígona, 2020, p. 100.
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