10 de fevereiro de 2022

Edição mercantil moderna

Com o surgimento da imprensa moderna, o livro tornou-se o primeiro objecto cultural de reprodução em série. O facto de as técnicas modernas de reprodução terem atingido primeiro o livro religioso e aí alcançado um amplo sucesso «comercial» mostra bem que o livro, enquanto objecto reprodutível, estava também no centro da longa transição histórica do velho fetichismo religioso pré-moderno para o novo fetichismo da mercadoria, do dinheiro e do capital da modernidade. Através dessa reprodução técnica, o livro enquanto artefacto cedo perdeu a individualidade, a diferença e a experiência «autêntica» inerentes aos produtos das outras artes (pintura, escultura, música, etc.). Tal como as moedas são cunhadas, os livros são reproduzidos. Assim, analogamente à moeda, cada livro é também um mero exemplar, uma cópia de um original na verdade inexistente, bem ao jeito da forma social de diferenciação da mercadoria. Quando o dinheiro e o livro se encontraram nasceu a edição mercantil moderna.”

Lamas, Bruno, Enquanto existir dinheiro…” in Oliveira, Luís (org.), Antígona 40 Anos + 1, Lisboa, Antígona, 2020, p. 100.


An Old Woman Reading
Imitator of David Teniers the Younger
Artist dates 1610 - 1690

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