1 de janeiro de 2022

A ideia de doença

A ideia de doença expande-se através de duas hipóteses. A primeira é a de que qualquer forma de desvio social pode ser considerado uma doença. Assim, o comportamento criminoso pode ser considerado uma doença, devendo os criminosos, em vez de serem condenados ou castigados, ser compreendidos (como o médico compreende) tratados, curados. A segunda é a de que todas as doenças são susceptíveis de ser consideradas de um ponto de vista psicológico. A doença é interpretada como, fundamentalmente, um facto psicológico e as pessoas são incentivadas a crer que adoecem porque (inconscientemente) assim o desejaram, e que podem curar-se a si próprias pela mobilização da vontade; que está na mão delas decidir não morrer da doença. Estas duas hipóteses são complementares. Enquanto a primeira parece diminuir a culpabilidade; a segunda volta a trazê-la ao de cima. As teorias psicológicas da doença são um poderoso meio de lançar a culpa sobre o doente. Os pacientes a quem se diz que são eles, involuntariamente, a causa da sua doença, são igualmente levados a pensar que a merecem.”


Sontag, Susan, A Doença como Metáfora e A Sida e as Suas Metáforas, Lisboa, Quetzal Editores, 1998, p. 65.



Convalescente
Artur Loureiro
1902
Museu Nacional Soares dos Reis

"Retrato do Dr. Francisco de Sousa Loureiro Junior, irmão do pintor, médico no Porto, falecido em 1908."

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