“A ideia de doença expande-se através de duas hipóteses. A primeira é a de que qualquer forma de desvio social pode ser considerado uma doença. Assim, o comportamento criminoso pode ser considerado uma doença, devendo os criminosos, em vez de serem condenados ou castigados, ser compreendidos (como o médico compreende) tratados, curados. A segunda é a de que todas as doenças são susceptíveis de ser consideradas de um ponto de vista psicológico. A doença é interpretada como, fundamentalmente, um facto psicológico e as pessoas são incentivadas a crer que adoecem porque (inconscientemente) assim o desejaram, e que podem curar-se a si próprias pela mobilização da vontade; que está na mão delas decidir não morrer da doença. Estas duas hipóteses são complementares. Enquanto a primeira parece diminuir a culpabilidade; a segunda volta a trazê-la ao de cima. As teorias psicológicas da doença são um poderoso meio de lançar a culpa sobre o doente. Os pacientes a quem se diz que são eles, involuntariamente, a causa da sua doença, são igualmente levados a pensar que a merecem.”
Sontag, Susan, A Doença como Metáfora e A Sida e as Suas Metáforas, Lisboa, Quetzal Editores, 1998, p. 65.
Sem comentários:
Enviar um comentário