3 de fevereiro de 2022

Sexo, Gulbenkian e Braga

"ㅡ Gostas de broche? pergunto e encaro-o fito nos olhos, muito sério, muito natural.
An, nem por isso responde sempre calmo.
Pois é só o que eu te posso fazer digo, como se me desculpasse de não ser o Calouste Gulbenkian.
E quanto me dá? pergunta desagradável feita em tom meramente comercial.
Olha, não te posso dar nada diz o falso Calouste dava-te se tivesse, mas estou tesíssimo, não tenho um tostão, já o tabaco foi fiado na pensão, só amanhã é que recebo um vale de Lisboa, amanhã às duas e meia.
ㅡ ‘Tão, nada feito diz a sua honra camponesa, e pela primeira vez noto como me apetecia aquele corpo, ser dono ou servo daquele aparato movediço de carne, pele, ossos, pêlos, força. E também me parece que ele está pronto a ir atrás duma promessa, duma mentira qualquer, e que a recusa pela venda comercial é onde ele esconde a sua pronta adesão. Talvez o seu vício. Mas para comercial, comercial e meio.
Se tivesse dava-te, já te disse.”

Pacheco, Luiz, O Libertino Passeia por Braga, a Idolátrica, o seu Esplendor, Braga, Fundação Cultural Bracara Augusta, 2000, pp. 41-42.


Print made by: Thomas Rowlandson
ca. 1790-1810

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