"ㅡ
Gostas
de broche? ㅡ
pergunto
e encaro-o fito nos olhos, muito sério, muito natural.
ㅡ
An,
nem por isso ㅡ
responde
sempre calmo.
ㅡ
Pois
é só o que eu te posso fazer ㅡ
digo,
como se me desculpasse de não ser o Calouste Gulbenkian.
ㅡ
E
quanto me dá? ㅡ
pergunta
desagradável feita em tom meramente comercial.
ㅡ
Olha,
não te posso dar nada ㅡ
diz
o falso Calouste ㅡ
dava-te
se tivesse, mas estou tesíssimo, não tenho um tostão, já o tabaco
foi fiado na pensão, só amanhã é que recebo um vale de Lisboa,
amanhã às duas e meia.
ㅡ
‘Tão,
nada feito ㅡ
diz
a sua honra camponesa, e pela primeira vez noto como me apetecia
aquele corpo, ser dono ou servo daquele aparato movediço de carne,
pele, ossos, pêlos, força. E também me parece que ele está pronto
a ir atrás duma promessa, duma mentira qualquer, e que a recusa pela
venda comercial é onde ele esconde a sua pronta adesão. Talvez o
seu vício. Mas para comercial, comercial e meio.
ㅡ
Se
tivesse dava-te, já te disse.”
Pacheco,
Luiz, O
Libertino Passeia por Braga, a Idolátrica, o seu Esplendor,
Braga, Fundação Cultural Bracara Augusta, 2000, pp. 41-42.
Print made by: Thomas Rowlandson
ca. 1790-1810
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