7 de janeiro de 2022

SIDA e racismo

     Assim, como ilustração do clássico cenário da peste, pensa-se que a sida partiu do «continente negro», espalhando-se depois para o Haiti, seguidamente para os Estados Unidos e para a Europa e depois… É vista como uma doença tropical: mais uma infestação do chamado «Terceiro Mundo», que no fundo é onde vive a maior parte da população mundial, assim como uma praga dos tristes tropiques. Os africanos que detectam estereótipos racistas num grande número de especulações sobre as origens geográficas da sida não se enganam. (Assim como não se enganam ao pensarem que a apresentação da África como berço da sida alimenta os preconceitos anti-africanos na Europa e na Ásia.) A conotação subconsciente com ideias de um passado primitivo e as inúmeras hipóteses formuladas acerca da possível transmissão por animais (uma doença dos macacos verdes? A febre suína africana?) mais não fazem que activar uma série de estereótipos bem conhecidos sobre a animalidade, a licenciosidade sexual, e os negros.”

Sontag, Susan, A Doença como Metáfora e A Sida e as Suas Metáforas, Lisboa, Quetzal Editores, 1998, p. 145.


Fight AIDS. Verso: ACT UP
ACT UP New York
1992 - 1995

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