“Cumpri
o serviço militar servindo no exército durante a Grande
Guerra,
desde Dezembro
de 1914
até
Agosto
de 1918,
mas
como soldado raso. (...)
Tenho um tal terror a ratazanas, que, durante a guerra, assustaram-me mais do que os Alemães. Recordo ainda claramente uma noite de pesadelo passada no «acampamento dos caixotes do lixo» perto de Poperinghe, local imundo e fervilhante de ratazanas, para onde se deslocaram tropas durante anos, para «descanso». Passei toda a noite em claro, deitado na tenda de campanha, a acender velas umas atrás das outras, e, mesmo assim, não resolvi o problema. Uma ratazana enorme começou a correr por cima do meu cobertor. Bati com os pés para tentar atirá-la ao chão, mas em vez disso foi pelo ar e acabou por cair precisamente em cima da minha cara! Vinte anos depois, sinto calafrios de horror e repugnância quando evoco tal episódio. A propósito, lembro-me ainda de outra noite, desta vez no sector perto de St. Julien, quando estava de serviço como maqueiro. Foi numa noite escura como breu. Estávamos todos deitados nas carateras abertas pelas granadas, cheias de água, aguardando melhor sorte, de minuto a minuto, era lançado um «very Light» que nos permitia ver um pouco naquelas trevas. A três ou quatro jardas de distância, distingui um cadáver, nosso ou alemão. À luz lívida e esverdeada vislumbrei meia dúzia de obscenas vampiresas do tamanho de coelhos em volta do cadáver. Recordo que fiquei meio louco de pavor e humilhação, por me considerar um homem e não ter coragem de avançar por terra de ninguém e recuperar o cadáver. Por fim, acabei por pedir a alguém que atirasse uma granada para evitar que o corpo fosse profanado.”
Tenho um tal terror a ratazanas, que, durante a guerra, assustaram-me mais do que os Alemães. Recordo ainda claramente uma noite de pesadelo passada no «acampamento dos caixotes do lixo» perto de Poperinghe, local imundo e fervilhante de ratazanas, para onde se deslocaram tropas durante anos, para «descanso». Passei toda a noite em claro, deitado na tenda de campanha, a acender velas umas atrás das outras, e, mesmo assim, não resolvi o problema. Uma ratazana enorme começou a correr por cima do meu cobertor. Bati com os pés para tentar atirá-la ao chão, mas em vez disso foi pelo ar e acabou por cair precisamente em cima da minha cara! Vinte anos depois, sinto calafrios de horror e repugnância quando evoco tal episódio. A propósito, lembro-me ainda de outra noite, desta vez no sector perto de St. Julien, quando estava de serviço como maqueiro. Foi numa noite escura como breu. Estávamos todos deitados nas carateras abertas pelas granadas, cheias de água, aguardando melhor sorte, de minuto a minuto, era lançado um «very Light» que nos permitia ver um pouco naquelas trevas. A três ou quatro jardas de distância, distingui um cadáver, nosso ou alemão. À luz lívida e esverdeada vislumbrei meia dúzia de obscenas vampiresas do tamanho de coelhos em volta do cadáver. Recordo que fiquei meio louco de pavor e humilhação, por me considerar um homem e não ter coragem de avançar por terra de ninguém e recuperar o cadáver. Por fim, acabei por pedir a alguém que atirasse uma granada para evitar que o corpo fosse profanado.”
Gibbons, John, Não Criei Musgo. Retrato de uma Aldeia Transmontana, Carrazeda de Ansiães, Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães, 2004, pp. 149-151.
Família de ratos ambulantes
c. 1880 - c. 1930
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