3 de julho de 2022

Sexo na Alemanha

   “Um ano ou dois mais tarde fui visitar um amigo que estudava numa universidade alemã – Göttingen, creio. «Revolução», na Alemanha, afinal significava algo muito diferente. Ninguém se divertia. Para um olhar inglês, toda a gente parecia indescritivelmente séria – e assustadoramente preocupada com sexo. Isto era algo novo: os estudantes ingleses pensavam muito em sexo, mas, surpreendentemente, faziam pouco; os estudantes franceses eram muito mais ativos sexualmente (pelo menos assim me pareceu), mas mantinham o sexo e a político separados. Exceto por uma ou outra palavra de ordem de «faz amor, não a guerra», a política dos estudantes franceses era intensa e absurdamente teórica e árida. As mulheres participavam – quando participavam – para fazer café e como companheiras de cama (e como acessório visual para os fotógrafos de imprensa). Não admira que o feminismo radical tenha vindo logo a seguir. 
    Mas na Alemanha, a política era sobre sexo – e o sexo em grande parte sobre a política. Ao visitar uma residência estudantil (todos os estudantes alemães que conheci pareciam viver em comunas, partilhando grandes apartamentos antigos e as companheiras uns dos outros) fiquei espantado quando descobri que os meus contemporâneos na Bundesrepublik acreditavam realmente naquilo que diziam. Segundo me explicaram, uma abordagem rigorosa, sem complexos, ao sexo casual era a melhor maneira de nos livrarmos de quaisquer ilusões sobre o imperialismo americano – e era a purga terapêutica do legado nazi dos seus pais, caracterizado como sexualidade reprimida disfarçada de nacional-machismo.”

Judt, Tony, O Chalet da Memória, Lisboa, Edições 70, 2011, p. 124.
Jolly Gipsies
Thomas Rowlandson
ca. 1790-1810

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