“A
própria palavra «intelectual», usada nesta aceção muito
lisonjeira, teria certamente divertido o escritor nacionalista
Maurice Barrès, o primeiro a usá-la, de forma pejorativa, para
descrever Émile Zola, Léon Blum e outros defensores do
«traidor
judeu» Dreyfus. Desde então, os intelectuais têm «intervindo» em
assuntos públicos delicados, invocando a autoridade especial do seu
prestígio académico ou artístico (hoje, o próprio Barrès seria
um «intelectual»). Não é por acaso que quase todos frequentaram
apenas uma pequena e prestigiada instituição, a École Normale
Supérieure.
Para
percebermos o mistério da intelectualidade francesa, temos de
começar pela École Normale. Fundada em 1794 para formar professores
do ensino secundário, tornou-se o viveiro da elite republicana.
Entre 1850 e 1970, licenciaram-se ali praticamente todos os
intelectuais franceses de renome (só muito recentemente é que as
mulheres começaram a ser admitidas): de Pasteur a Sartre, de Émile
Durkheim a Georges Pompidou, de Charles Péguy a Jacques Derrida (que
chumbou no exame de acesso, por duas vezes, antes de passar), de Léon
Blum a Henri Bergson, Romain Rolland, Marc Bloch, Louis Althusser,
Régis Debray, Michel Foucault, Bernard-Henri Lévy e os oito
vencedores franceses da medalha Fields, para matemáticos.”
Judt, Tony, O Chalet da Memória, Lisboa, Edições 70, 2011, pp. 114-115.
Émile Zola
Marcellin Desboutin
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