“Recebemos
da sociedade em que vivemos uma série de mensagens que nos dizem:
Consumam. Enriqueçam. Façam o que vos apetece. Divirtam-se. O
próprio funcionamento deste sistema económico, que proporciona
estas liberdades sem precedentes, que se cultivam sob a forma de
mobilidade física e prosperidade material, assenta no incentivo às
pessoas para que ultrapassem os limites. O apetite
supõe-se
imoderado.
A ideologia do capitalismo transforma-nos a todos em conhecedores da
liberdade ― da indefinida expansão do possível. Todos os tipos de
proselitismo clamam oferecer antes de mais, ou também, um qualquer
acréscimo de liberdade. Não qualquer liberdade, como é evidente.
Nos países ricos, a liberdade veio a ser cada vez mais identificada
com a «realização pessoal» ― uma liberdade que se goza ou
pratica a sós (ou como
estando
a sós). Este facto explica uma boa parte dos discursos correntes
sobre o corpo, de novo imaginado como um instrumento que permite pôr
em prática, cada vez mais, vários programas de
auto-aperfeiçoamento, de aumento de poderes. Tendo em conta os
imperativos ligados ao consumo e o valor virtualmente inquestionado
associado à expressão individual, como poderia a sexualidade não
acabar
por ser, para alguns, uma opção de consumo: um exercício da
liberdade, de acrescida mobilidade, de ultrapassar limites. Longe de
ser uma invenção da subcultura homossexual masculina, a sexualidade
recreativa, sem riscos, é uma reinvenção inevitável da cultura do
capitalismo, ao mesmo tempo que contava com a garantia da medicina. O
advento da sida parece ter mudado tudo, irrevogavelmente.”
Sontag, Susan, A Doença como Metáfora e A Sida e as Suas Metáforas, Lisboa, Quetzal Editores, 1998, pp. 170-171.
Impact of HIV/AIDS
Betty Ssetumba
Uganda
2008
"The devastating impact of HIV/AIDS is portrayed through empty houses and overgrown courtyards. The rectangular motif at the top of the hanging represents the graves of the many people who have passed away in Uganda since the late 1980s." daqui
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