9 de dezembro de 2021

Missa na Quinta do Vesúvio

    “Ali está a capela e cá fora espera um pequeno ajuntamento de cerca de trinta homens e mulheres. A professora alinha as crianças para passar revista. Todas calçam os sapatos que traziam na mão, incluindo a própria professora. Trazia calçado grosseiro para andar na serra, mas agora já parece uma jovem da cidade. «Toilette» geral. Lamento dizê-lo, mas a pessoa mais suja da parada sou eu. Sinto a camisa húmida por causa da caminhada e o colarinho parece um esfregão de lavar pratos…
    Um homem começa a tocar o sino da Igreja puxando por uma longa corda atada ao badalo e movendo-a de um lado para o outro, o que provoca um curioso ressoar. As crianças entram em fila. Toca outro sino e começa então a Missa. Entram os homens. Não existem bancos, nem sequer os genuflexórios das igrejas francesas. A capela é completamente despida, e temos de nos ajoelhar no chão de lajeado. Nem música, nem órgão, nem coro, nem acólitos de sobrepeliz; há apenas o padre, e um camponês vestido normalmente que ajuda à Missa. O padre faz um pequeno sermão, e, a propósito, não é feito peditório. Chegamos às orações finais, rezadas em português. É espantoso como o Português se parece com o Latim. Os estudiosos dizem que é de longe a mais latina das línguas latinas, chegando a afirmar que supera nessa semelhança, o espanhol, o francês e mesmo o italiano!”

(nota de rodapé da p. 60 - "Ia-se à Missa à Capela da Quinta das Figueiras ou do Vesúvio, mais conhecida na zona por Quinta da Ferreirinha.")

Gibbons, John, Não Criei Musgo. Retrato de uma Aldeia Transmontana, Carrazeda de Ansiães, Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães, 2004, p. 63.

Quinta do Vesúvio

Villa Maior, visconde de, O Douro illustrado. Album do Rio Douro e Paiz Vinhateiro, Porto, Livraria Universal de Magalhães & Moniz, Editores, 1876, p. entre pp. 90 e 91. daqui

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