1 de dezembro de 2021

Colinas

    "Quarta-feira [7 de Agosto Diz-se de Lisboa, frente à qual estávamos agora fundeados, que se reparte por número de colinas igual ao da antiga Roma, mas elas não se deixam todas ver do rio; pelo contrário, apenas víamos um monte rochoso de grande altura, onde os edifícios se vão sobrepondo uns aos outros, em degraus tão íngremes e a pique que parecem escorados num mesmo alicerce.
    Como as casas, os conventos, as igrejas, etc., são edifícios grandes e de pedra branca, parecem muito belos à distância; quando nos aproximamos e vemos que são destituídos de quaisquer ornamentos, toda a impressão de beleza logo se desvanece. Enquanto contemplava esta cidade, tão pouco parecida com qualquer outra que conheça, ocorreu-me uma reflexão: se um homem fosse de súbito transportado de Palmyra para aqui e não possuísse imagens de nenhuma outra urbe, como haveria de lhe parecer gloriosa a arquitectura antiga! Como não haveria ele de concluir que verdadeira desertificação e destruição atingiram as artes e as ciências entre as eras que assistiram à construção das duas cidades!"

Fielding, Henry, Diário de uma viagem a Lisboa, Lisboa, Edições Ática, 1992, p. 115.

Panorâmica tirada da rua Ivens sobre a colina do Castelo
Eduardo Portugal
1939

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