29 de novembro de 2021

Um galinheiro e uma coelheira

"Imagine-se um indivíduo que era filho do caseiro, que faz ali uns estudos, depois vai para o liceu e para a universidade em Coimbra, mas vive sempre naquelas instituições católicas, com a pobreza que aquilo tinha, mas com disciplina e com o sentimento de virtude que elas incutiam nele. Depois de formado, vai para professor, continua a viver monasticamente, com refeições a horas, talheres primitivos, mas a roupinha asseada, e que vai acumulando um sentimento de virtude enorme, porque essas coisas só são suportáveis se as pessoas se convencessem de que «eu sou melhor do que os outros» e de que têm uma disciplina superior. Um homem que só comunica com o mundo pela leitura e pela escrita e mais nada. Depois, quando chega a Lisboa, continua a viver assim. Aluga uma casa ali em Arroios, que pelas descrições de Marcello Caetano era simplória, tão pobre quanto um presidente do Conselho podia arranjar, e depois vai para São Bento, traz a camponesa que o servia de Vimieiro e faz um galinheiro e uma coelheira. Essa parte de Salazar mantém-se até morrer."

Silva, João Céu e, Uma Longa Viagem com Vasco Pulido Valente, Lisboa Contraponto, 2021, p. 131.

Retrato do Prof. Doutor António de Oliveira Salazar
Eduardo Malta 
1933

Sem comentários:

Enviar um comentário