13 de novembro de 2021

A alma humana é porca como um ânus

Álvaro de Campos

A alma humana é porca como um ânus

E a Vantagem dos caralhos pesa em muitas imaginações.

Meu coração desgosta-se de tudo com uma náusea do estômago.

A Távola Redonda foi vendida a peso,

E a biografia do Rei Artur, um galante escreveu-a.

Mas a sucata da cavalaria ainda reina nessas almas, como um perfil distante.

Está frio.
Ponho sobre os ombros o capote que me lembra um xaile —
O xaile que minha tia me punha aos ombros na infância.
Mas os ombros da minha infância sumiram-se antes para dentro dos meus ombros.
E o meu coração da infância sumiu-se antes para dentro do meu coração.

Sim, está frio...

Está frio em tudo que sou, está frio...

Minhas próprias ideias têm frio, como gente velha...

E o frio que eu tenho das minhas ideias terem frio é mais frio do que elas.

Engelho o capote à minha volta...

O Universo da gente... a gente... as pessoas todas!...

A multiplicidade da humanidade misturada

Sim, aquilo a que chamam a vida, como se só houvesse outros e estrelas...

Sim, a vida...

Meus ombros descaem tanto que o capote resvala...

Querem comentário melhor? Puxo-me para cima o capote.

Ah, parte a cara à vida!

Levanta-te com estrondo no sossego de ti!


s.d.

daqui



Derrick Cross
Robert Mapplethorpe
1983

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