20 de janeiro de 2021

Prostitutas em Custóias

     "A prostituta que entra em Custóias é a «rameira». Uma infância de miséria, com má comida, com doenças e porcarias, deu-lhe desde que nasceu um aspecto doentio. E a vida que levou por aí fora, foi-lhe estragando o físico. A fome, as caminhadas rua abaixo, rua acima, de sapatos de fino tacão, ao vento e à chuva, mas sempre com roupas leves para mostrar a mercadoria. 

    As relações sucessivas com brutamontes em cima da vagina e do corpo todo. As doenças venéreas. A gravidez suportada até ao último dia sem abandonar a rua. Os filhos e a corrida para a rua logo a seguir ao parto para arranjar mais dinheiro. As muitas tareias do chulo. As corridas para fugir da Polícia. O medo.

    Tudo isso molda o seu aspecto. Quase todas as prostitutas, que por aqui passaram, são baixinhas e enfezadas. Podemos dizer que a maioria delas talvez tivessem um metro e meio, o que muito nos espantou.

    Quando são apanhadas aos dezassete e dezoito anos, conservam ainda um aspecto fresco. Mas um ou dois anos depois a vida fez a sua devastação. Cabelos secos. Dentes estragados. Pele seca, pálida e com borbulhas. Unhas partidas. Pinturas baratas nos cabelos, atrasadas sempre o suficiente para apresentar duas riscas de cores diferentes ou debotadas. Roupas de má qualidade, macaqueando a roupa."

Carmo, Isabel do, Fráguas, Fernanda, Puta de prisão. A prostituição vista em Custóias, Lisboa, A Regra do Jogo, 1982, p. 21. 


Untitled study of a reclining prostitute, seen from behind
ca. 1925

Sem comentários:

Enviar um comentário