"O espaço esterilizado e vazio que triunfa hoje na nova concepção bibliotecária também não tem muito que oferecer ao leitor conspícuo, ao leitor "de sempre". Refiro-me ao leitor que somatiza e vive a leitura, não ao mero consultor de fluidos de informação. Um leitor, por certo, incómodo e hoje erradicado, perseguido, em vias de total extinção. Leitor que ri com Demócrito e chora com Heraclito (ou talvez ao contrário), que se levanta e passeia, que urina com frequência, que expectora e espirra, que se penteia e se coça... Leitor que costuma levantar os olhos do poema de amor para seguir as pernas da rapariga (ou o dorso do rapaz) que cruza o campo visual, isto é, um leitor nem sempre completamente concentrado na leitura."
Rodríguez de la Flor, Fernando, Biblioclasmo. Por uma prática crítica da lecto-escrita, Lisboa, Livros Cotovia, 2004, p. 79.
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Edward Richard Taylor, Birmingham Reference Library - The Reading Room, 1881 (Daqui) |
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